7.22.2010

Jakusho Kwong-roshi e Chögyam Trungpa

Jakusho Kwong-roshi e Chögyam Trungpa


Bill Scheffel



Herdeiro no dharma de Shunryu Suzuki-roshi, Jakusho Kwong-roshi, que no passado teve o nome de Bill Kwong, fundou o Sonoma Mountain Zen Center em 1973. Ao longo de seu caminho, essa fundação exigiu tenacidade e coragem consideráveis, ocorreu através de uma série de acidentes, desafios, uma luta contra um câncer nos testículos e, sem dúvida, pelas bênçãos inexoráveis de Dōgen e de outros precursores do Soto-Zen. Shinko, esposa de Kwong-roshi (que no passado teve o nome de Laura), também desempenhou um papel essencial nessa fundação, um projeto realizado centavo por centavo, com uma grande horta orgânica e muito trabalho, árduo, disciplinado e ao mesmo tempo alegre. Roshi e Shinko criaram uma família com quatro rapazes na casa adjacente ao centro zen. Igualmente impressionante, mantiveram-se firmes, simplesmente administrando o centro zen década após década, com um pequeno grupo de residentes, com a cozinha sempre abastecida, a horta crescendo, a biblioteca aberta e, é claro, praticando no zendo todos os dias, começando às 5 da manhã com o serviço matinal e o zazen.



É bem sabido que o Zen inclui esse tipo de trabalho duro. Dar atenção às tarefas necessárias e mundanas da vida diária (com humor!) é uma expressão de amor, uma invocação dos dralas, e também o caminho de Dōgen, o fundador da escola Soto-Zen, que esboçou regras não apenas para o zendo como também para banheiros e cozinhas. É fácil notar como o Sonoma Mountain Zen Center segue os conselhos transcendentais e comuns de Dōgen mesmo quando todo o aparato está ocioso. Se a cozinha está vazia, isso também significa que ela está limpa, na medida em que nunca se deixa a louça para ser lavada no dia seguinte; ao comer, todos — incluindo Roshi e Shinko — lavam, enxugam e guardam o que usaram até que todas as tigelas estejam empilhadas, todos os escorredores, impecáveis.



Todas as suas soluções ainda contêm problemas.

Nos momentos em perigo em um navio à deriva

Repentinamente vemos seus olhos sobre nós.

Embora não nos aprovem inteiramente tal como somos,

Mesmo assim estão de acordo conosco.



Kwong-roshi costuma citar o caminho do mestre Zen, “Um engano contínuo” (outra forma de solução que ainda contém problemas). Kwong-roshi talvez tenha recebido um bote salva-vidas maior do que a maioria de nós; afinal, foi escolhido para ser um herdeiro no dharma — o que é um privilégio e um incentivo! Suzuki-roshi deve ter enxergado em Bill Kwong alguém que não tinha o interesse de desperdiçar sua vida. Então atirou para ele aquele bote salva-vidas, aquela pedra de moinho. Chögyam Trungpa surgiu muitas vezes na vida de Kwong-roshi como se dissesse: “Você pode carregá-lo, você pode flutuar”. Aos 72 anos, Kwong-roshi é alguém que devemos procurar se queremos ver essa qualidade genuína, esse humor, essa coragem em ação.

http://magazine.dharma.art.br/2010/04/celebracao-e-compromisso/

Trad. Carlos A. Inada

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