5.25.2005

Flores para o Buda

"Nós ofertamos belas flores ao Buda, mas essas flores nem sempre crescem em um belo jardim. Elas podem ser cardos apanhados no campo, à beira de uma estrada. Ninguém dá atenção a eles por que são considerados feios. Mas olhe para um cardo. Ele é bonito. Se cuidarmos desse cardo e o colocarmos em um determinado lugar, podemos ver que ele é bonito. Assim, de agora em diante, quando você caminhar por uma rua, dê atenção até mesmo aos cardos como se fossem um Buda. Ainda que você não dê atenção a esse cardo que cresce ao longo da beira da estrada, na verdade esse cardo está ajudando, de muitas maneiras, a sua vida"
Extraído de "Retornando ao Silêncio" de Dainin Katagiri

5.19.2005

sobre como escrever!!!

"percebi que não era nada-menos que nada. Foi então que comecei a escrever. Lançando tudo ao mar, mesmo aqueles que amava. No momento em que ouvi minha própria voz, fiquei encantado: o fato de ser uma voz isolada, distinta, única, me deu alento. Não importava se o que escrevia pudesse ser considerado ruim. Bom e ruim saíram do meu vocabulário. Pulei com os dois pés no reino da estética. Minha vida em si se tornou uma obra de arte. Encontrara uma voz, estava de novo inteiro. Meu enorme fracasso fora a recapitulação da experiência da raça: tinha que me entupir de conhecimento, perceber a futilidade de tudo, destruir tudo, me tornar desesperado, a seguir humilde, e depois me apagar inteiramente, como os iniciados do Zen. Tinha que chegar na borda do abismo e dar um salto no escuro."

Este texto foi escrito por Henry Miller, quem conhece a história dele sabe a dureza que ele enfrentou até conseguir escrever. Então aí está descrito o momento da virada, do estalo que aconteceu para a escrita fluir.

haikai II

Mesmo na chuva
posso entender
estes olhos úmidos

5.16.2005

haikai

tomando cerveja
percebendo o vazio
entrando no copo

5.07.2005

poesia de ikkyu II

Minha vida tem sido devotada ao jogo do amor;
Não me arrependo de estar emaranhado no fio vermelho da cabeça aos pés,
Tampouco tenho vergonha de ter passado meus dias como uma Nuvem Louca.

Uma breve pausa entre
a estrada imperfeita aqui e
o caminho perfeito ali:
Se chover, que chova!
Se for tempestade, que seja tempestuosa!

Obs. O próprio Ikkyu apelidou-se de Nuvem Louca exemplificando seu estilo excêntrico de praticar o zen

poesias de Ikkyu

Dez dias
No mosteiro
Deixaram-me inquieto.
O fio vermelho
Nos meus pés
É longo e não está partido.
Se algum dia você vier
À minha procura,
pergunte por mim na peixaria,
na taverna,
ou no bordel.

Ikkyu San

Ikkyu Sojun foi outro destes mestres autênticos e não convencionais. Viveu entre 1394 e 1481 no Japão. Ele não obedecia as regras rígidas dos mosteiros (principalmente quanto ao sexo, bebida e alimentação) pois acreditava que o zen autêntico e puro não estava ligado a nenhuma prática religiosa ortodoxa. Ele costumava passear pela zona boêmia vestido com sua túnica de sacerdote para demonstrar que não há qualquer contradição entre a prática do zen e o sexo. Ele acreditava que o zen se aplica a todas as coisas sem distinção, em todos os instantes.
Pessoalmente sou um grande admirador da vida destes mestres e de suas lições de liberdade. Mas, com isso, não quero dizer que este seja o caminho de todos. Apenas poucos iluminados podem transitar entre o sagrado e o profano, reconhecendo a dualidade apenas como uma criação de nossa mente.
Para cada pessoa há um caminho. Por favor, tentem com todas as forças, encontrar o seu o mais breve possível, seja ele num mosteiro , numa mesa de bar ou num canteiro de flores e hortaliças.

Quem foi Ryokan Daigu?

O mestre zen Ryokan Daigu viveu no Japão de 1758 a 1831. Ele foi um mestre não convencional, um autêntico outsider, pois não morava em mosteiros nem tinha discípulos. Habitava uma pequena cabana chamada Gogo-an e vivia apenas com um manto e uma tigela sobrevivendo do que ganhava nas suas mendigações diárias. Parecia ser um grande tolo, como o nome Daigu indica, mas foi considerado um dos maiores mestres budistas, um poeta requintado e um dos melhores calígrafos japoneses.
Adorava brincar com as crianças como se fosse uma delas. Também gostava de tomar saquê com os camponeses. Um pouco antes de morrer, sua namorada lhe deu o apelido de "o corvo", o pássaro que simboliza o amor no Japão.

5.06.2005

Poesia de Ryokan II

O número de dias desde que deixei o mundo e
Me confiei aos Céus está até esquecido.
Ontem, sentando calmamente nas montanhas verdes;
Nesta manhã, jogando com as crianças da aldeia.
Meu manto está todo remendado e
Não posso mais lembrar quanto tempo tive a mesma tigela de mendigação.
Em noitem límpidas caminho com meu bastão e canto poemas;
Durante o dia desenrolo minha esteira e dou uma cochilada.
Quem ousa dizer que muitos não podem levar uma tal vida?
Apenas sigam meu exemplo.

5.03.2005

Poesias de Ryokan

Noite de Verão
Tarde da noite, o leve som de alguém pilando arroz.
O orvalho pinga do bambu sobre a pilha de lenha,
E as plantas por todo jardim também estão úmidas.
Sapos coaxam à distância mas parecem estar bem próximos.
Vagalumes alumiam ora baixo, ora alto.
Completamente desperto; o sono está distante.
Amaciando o travesseiro, deixo que meus pensamentos perambulem.

5.01.2005

O Sonho da Borboleta

Acho este texto de Chuangtsé muito ilustrativo sobre a questão das paisagens mentais. Inclusive o Raul Seixas fez uma música chamada Sábio Chinês inspirada neste texto

"Certa vez, eu, Chuang Chou, sonhei que era uma borboleta, a voejar para lá e para cá, borboleta para todos os fins e em todos os sentidos. Tinha consciência apenas de minha felicidade como borboleta, sem saber que era Chou. Logo despertei, e ali me achava, de novo e verdadeiramente eu mesmo. Agora, não sei se eu era então um homem a sonhar que era borboleta, ou se sou agora uma borboleta a sonhar que sou homem. Entre um homem e uma borboleta existe, por força,uma distinção. A transição se chama a transformação das coisas materiais."