12.26.2011

Ryōkan Daigu é uma das figurinhas mais lendárias e simpáticas do zen japonês; uma espécie de eremita e errante, um tanto avesso à vida sacerdotal, vivendo em sua cabaninha de telhado de palha. Nome de monge bem dado ("grande tolo com um bom coração"): Ryōkan gostava de tomar umas biritinhas com os camponeses da vizinha...nça, ou então sozinho, escrevendo poemas em sua cabana - pelos quais ficou conhecido, mais tarde. Também gostava de brincar com a criançada, e conta-se que muitas vezes esquecia de fazer a sua ronda de esmolas, de tão entretido que estava - e ficava sem comer. Seu professor realmente soube escolher um nome-do-dharma à altura. Estes são os "59 itens que Ryōkan compilou para ter o comportamento à altura de um monge budista, lembrando, como mestre Chao-chou dizia, o budismo não é o que a pessoa prega ou fala, mas o que faz. É notável que a maioria de suas auto-impostas advertências estão ligadas ao ato de falar [....]" "Tomar cuidado para: - não falar demais; - não falar rápido demais; - não falar sem alguém perguntar; - não falar gratuitamente; - não falar com as mãos; - não falar sobre assuntos mundanos; - não retorquir rudemente; - não discutir; - não sorrir condescendentemente às palavras de outros; - não usar expressões chinesas elegantes; - não se vangloriar; - evitar falar diretamente; - não falar com ar de quem sabe tude; - não pular de um tópico para outro; - não usar palavras enfeitadas ou pomposas; - não falar de eventos passados que não podem ser alterados; - não falar como um pedante; - evitar perguntas diretas; - não falar mal dos outros; - não falar grandiloquentemente da iluminação; - não fazer bagunça quando bêbado; - não falar de forma desprezível; - não gritar com crianças; - não tecer histórias fantásticas; - não falar quando zangado; - não deixar subentender nomes importantes; - não ignorar as pessoas a quem você está se dirigindo; - não falar santimonialmente dos deuses ou dos budas; - não usar discurso adocicado; - não usar discurso adulador; - não falar de coisas das quais você não tem conhecimento; - não monopolizar a conversa; - não falar de outros pelas costas deles; - não falar convencidamente; - não denegrir os outros; - não cantar rezas ostensivamente; - não reclamar da quantidade da doação; - não dar sermões muito eloquentes; - não falar afetadamente como um artista; - não falar afetadamente como um mestre do chá; - oferecer incenso e flores para os budas; - plantar árvores e flores, limpar e aguar o jardim; - regularmente usar moxa para as pernas; - evitar peixes oleosos; - selecionar comidas leves e evitar comidas gordurosas; - não dormir demais; - não comer demais; - não dar uma cochilada muito longa à tarde; - não ficar exausto; - não ser negligente; - não falar quando você não tiver nada a dizer; - não esconder nada em seu coração; - sempre beber o saquê quente; - raspar sua cabeça; - aparar as unhas; - escovar os dentes e usar um palito de dentes; - tomar banho; - manter sua voz clara e nítida." "[....] Mestre Ryōkan estava sempre esquecendo as coisas. Um número de cartas a seus amigos sobreviveu, cheia de desenhos de objetos que ele havia esquecido em algum lugar e lhes perguntando se eles haviam visto os objetos em questão. Às vezes ele mendigava na mesma casa, duas vezes no mesmo dia, tendo esquecido sua visita anterior e era repreendido pela dona da casa por ser cobiçoso. Aqui está uma outra lista que ele fez: Coisas para levar com você: chapéu de algodão, toalha, tecido, papel, leque, moedas, bolinhas de gude e bolas de jogar. Necessidades: chapéu de bambu, material para a perna (como uma meia), luvas, cinto, bastão, manto pequeno. Para peregrinações: roupas, capa de chuva de palha, tigela, saco. Lembrete: tenha certeza de ler isto antes de sair ou você vai ficar em apuros!" entre aspas: da revista Flor do Vazio, ano 7 vol. 1, verão de 2003; pg. 72