12.29.2010

verão

As árvores acolhem com sombra.
O vento acaricia folhas do plátano que cantam.
Depois do almoço, deitar na grama e ser testemunha do paraiso.

12.02.2010

não penso



olho para as folhas


aprendo com o vento
vivo sem pressa



larguei umas coisas


fiquei com o que interessa

11.25.2010

Noam Chomsky: As 10 estratégias de manipulação midiática

Noam Chomsky: As 10 estratégias de manipulação midiática




por Noam Chomsky*, em Adital

Tradução: Adital



O linguista Noam Chomsky elaborou a lista das “10 Estratégias de Manipulação”através da mídia.



1. A estratégia da distração. O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir que o público se interesse pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado; sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja com outros animais (citação do texto “Armas silenciosas para guerras tranquilas”).



2. Criar problemas e depois oferecer soluções. Esse método também é denominado “problema-ração-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” previsa para causar certa reação no público a fim de que este seja o mandante das medidas que desejam sejam aceitas. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o demandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para forçar a aceitação, como um mal menor, do retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços púbicos.



3. A estratégia da gradualidade. Para fazer com que uma medida inaceitável passe a ser aceita basta aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, por anos consecutivos. Dessa maneira, condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990. Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.



4. A estratégia de diferir. Outra maneira de forçar a aceitação de uma decisão impopular é a de apresentá-la como “dolorosa e desnecessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrificio imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Logo, porque o público, a massa tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isso dá mais tempo ao público para acostumar-se à ideia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.



5. Dirigir-se ao público como se fossem menores de idade. A maior parte da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade mental, como se o espectador fosse uma pessoa menor de idade ou portador de distúrbios mentais. Quanto mais tentem enganar o espectador, mais tendem a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Ae alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, em razão da sugestionabilidade, então, provavelmente, ela terá uma resposta ou ração também desprovida de um sentido crítico (ver “Armas silenciosas para guerras tranquilas”)”.



6. Utilizar o aspecto emocional mais do que a reflexão. Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional e, finalmente, ao sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de aceeso ao inconsciente para implantar ou enxertar ideias, desejos, medos e temores, compulsões ou induzir comportamentos…



7. Manter o público na ignorância e na mediocridade. Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais menos favorecidas deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que planeja entre as classes menos favorecidas e as classes mais favorecidas seja e permaneça impossível de alcançar (ver “Armas silenciosas para guerras tranquilas”).



8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade. Levar o público a crer que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto.



9. Reforçar a autoculpabilidade. Fazer as pessoas acreditarem que são culpadas por sua própria desgraça, devido à pouca inteligência, por falta de capacidade ou de esforços. Assim, em vez de rebelar-se contra o sistema econômico, o indivíduo se autodesvalida e se culpa, o que gera um estado depressivo, cujo um dos efeitos é a inibição de sua ação. E sem ação, não há revolução!



10. Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem. No transcurso dosúltimos 50 anos, os avançosacelerados da ciência gerou uma brecha crescente entre os conhecimentos do público e os possuídos e utilizados pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem disfrutado de um conhecimento e avançado do ser humano, tanto no aspecto físico quanto no psicológico. O sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que ele a si mesmo. Isso significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior do que o dos indivíduos sobre si mesmos.



* Linguista, filósofo e ativista político estadunidense. Professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts

11.24.2010

O olho da Rainha Elefante

Belo texto do Thay sobre o cuidado ambiental.
 
O Olho da Rainha Elefante
 
Thich Nhat Hahn 
 
Every step we make has the power to heal and transform. Not only can we heal ourselves by our steps, but we can help the Earth and the environment.




The Mahaparinirvana Sutra describes the life of the Buddha during his last year—the places he travelled, the people he met, and the teachings he gave. In the sutra, it is said that the Buddha had just spent the Rains Retreat near the city of Vaishali, north of the Ganges River, and that he then decided to travel north in order to return to the town of his birth, Kapilavastu. Although he knew this was the last time he would ever see the beautiful city of Vaishali, he did not lift his hand to wave good-bye. Instead, we find this sentence in the sutra:



The Buddha, on his way, turned around, and with the eyes of an elephant queen, he surveyed the city of Vaishali for the last time and said, “Ananda, don’t you think that Vaishali is beautiful?” After having surveyed the city of Vaishali with a gentle gaze that took in all of its beauty, the Buddha turned back to the north and began to walk.



When the Buddha looks, he does so with the eyes of the elephant queen in order to look deeply and recognize what is there. We, too, have the eyes of the Buddha and of the elephant queen. If you see deeply into the beauty of nature around you, you’re looking with the eyes of the Buddha. It is extremely kind of you to look on behalf of the Buddha, to contemplate the world for the Buddha, because you are his continuation.



So when you practice sitting meditation, sit for the Buddha. The Buddha in you is sitting upright, the Buddha in you is enjoying every in-breath and out-breath, the Buddha in you is contemplating the world with mindfulness and getting in touch with the beauty of nature.



If you know how to contemplate the beauty of nature with the eyes of the Buddha, you will not say that your life has no meaning. You can listen with the ears of the Buddha, you can contemplate the world with the eyes of the Buddha, and thanks to that, your children and their children will also be able to look and contemplate like the Buddha. You transmit the Buddha to your children and to their children, in the way you walk, sit, look, and listen, even in the way you eat. This is something that you can do now. Starting today, you can already be a real and true continuation of the Buddha, our spiritual ancestor.



Every minute of our daily lives is an opportunity for us to walk like a buddha, to listen with compassion like a buddha, to sit as peacefully and as happily as a buddha, and to look deeply and enjoy the beauties of the world like a buddha. In doing so, we are helping our father, our mother, our ancestors, and our children in us to evolve, and we are also helping our teacher to fulfil his vow, his aspiration. In this way, our life will truly become a concrete message of love. Living our lives in this way, we can help prevent global warming from harming our planet.



When we look deeply into ourselves, we can identify elements of the Kingdom of God that are available in the here and now. To me the Kingdom of God or the Pure Land of the Buddha is not a vague idea; it is a reality. That pine tree standing on the mountain is so beautiful, solid, and green. To me the pine tree belongs to the Kingdom of God, the Pure Land of the Buddha. Your beautiful child with her fresh smile belongs to the Kingdom of God, and you also belong to the Kingdom of God. If we’re capable of recognizing the flowing river, the blue sky, the blossoming tree, the singing bird, the majestic mountains, the countless animals, the sunlight, the fog, the snow, the innumerable wonders of life as miracles that belong to the Kingdom of God, we’ll do our best to preserve them and not allow them to be destroyed. If we recognize that this planet belongs to the Kingdom of God, we will cherish and protect it so we can enjoy it for a long time, and so that our children and their children will have a chance to enjoy it.



The Buddha teaches us about the cycle of samsara, a cycle in which the same suffering repeats itself. If we don’t practice, we won’t be able to step out of it. With mindful breathing, mindful walking, and mindful dwelling in the present moment, we don’t need to consume and run after objects of craving in order to be happy. In our monastery at Plum Village, nobody has their own bank account, no one has a private car or a private cell phone, and the monks, nuns, and laypeople who live here don’t receive any salary. And yet there’s joy and happiness, there’s brotherhood and sisterhood. We don’t need the “American dream” anymore. Breathing in, we get in touch with the stars, the moon, the clouds, the mountain, the river. When we’re inhabited by the energy of mindfulness and concentration, every step we take leads us into the Kingdom of God, the Pure Land of the Buddha.



When we look deeply into a flower, we see the elements that have come together to allow it to manifest. We can see clouds manifesting as rain. Without the rain, nothing can grow. When I touch the flower, I’m touching the cloud and touching the rain. This is not just poetry, it’s reality. If we take the clouds and the rain out of the flower, the flower will not be there. With the eye of the Buddha, we are able to see the clouds and the rain in the flower. We can touch the sun without burning our fingers. Without the sun nothing can grow, so it’s not possible to take the sun out of the flower. The flower cannot be as a separate entity; it has to inter-be with the light, with the clouds, with the rain. The word “interbeing” is closer to reality that the word “being.” Being really means interbeing.



The same is true for me, for you, and for the Buddha. The Buddha has to inter-be with everything. Interbeing and nonself are the objects of our contemplation. We have to train ourselves so that in our daily lives we can touch the truth of interbeing and nonself in every moment. You are in touch with the clouds, with the rain, with the children, with the trees, with the rivers, with your planet, and that contact reveals the true nature of reality, the nature of impermanence, nonself, interdependence, and interbeing.



We have destroyed our Mother Earth in the same way bacteria or a virus can destroy a human body. Mother Earth is also a body. Of course, there are bacteria that are beneficial to the human body, that protect the body and help generate enzymes that we need. Similarly, if the human species wakes up and knows how to live with responsibility, compassion, and loving kindness, the human species can be a living organism with the capacity to protect the body of Mother Earth. We have to see that we inter-are with our Mother Earth, that we live with her and die with her.



It’s wonderful to realize that we are all in a family, we are all children of the Earth. We should take care of each other and we should take care of our environment, and this is possible with the practice of being together as a large family. A positive change in individual awareness will bring about a positive change in the collective awareness. Protecting the planet must be given the first priority. I hope you will take the time to sit down with each other, have tea with your friends and your family, and discuss these things. Invite Bodhisattva Earth Holder to sit and collaborate with you. Then make your decision and act to save our beautiful planet. Changing your way of living will bring you a lot of joy right away and, with your first mindful breath, healing will begin.



Reprinted from The World We Have: A Buddhist Approach to Peace and Ecology (2008) by Thich Nhat Hanh by kind permission of Parallax Press, Berkeley, California, www.parallax.org. You can purchase the book here.

11.18.2010


Mesa de trabalho no Jardim Botânico

Posted by Picasa

mais do Manoel





A inventividade e o primitivismo da poesia de Manoel de Barros


Publicado em 07 de maio de 2010



Wilker Sousa







Desde seus Poemas Concebidos sem Pecado, de 1937, Manoel de Barros publicou 20 livros. Avesso ao epíteto de “Poeta do Pantanal”, uma vez que “a poesia mexe com palavras e não com paisagens”, Manoel faz travessuras com a linguagem, “desaumatizando” a percepção de mundo: “Escrevo o idioleto manoelês archaico (idioleto é o dialeto que os idiotas usam para falar com as paredes e com as moscas). Preciso atrapalhar as significâncias. O despropósito é mais saudável que o solene” (Livro sobre Nada, 1996). O substrato de sua arte está essencialmente no universo pantaneiro, povoado de passarinhos, rãs, lesmas, pedras e rios. Porém, antes de simples ambientação e pretexto para o memorialismo, o Pantanal converte-se em poesia por meio do uso “reinventivo” da linguagem; daí a recusa a rótulos como aquele.



Tais eixos temáticos e estilísticos perpassam toda a obra de Manoel de Barros, em um dos projetos mais coerentes da lírica brasileira. Em seu mais novo livro, Menino do Mato, permanecem o primitivismo e o retorno à inocência perdida, simbolizados no tema da infância: “A maneira de dar canto às palavras o menino / aprendeu com os passarinhos”. Na esteira deste lançamento, é publicada a compilação de sua obra completa, o que permite ao leitor assistir ao desenrolar de mais de sete décadas dedicadas ao fazer poético. Nesta entrevista, concedida à CULT por e-mail, o poeta de 93 anos fala de seu novo livro, da pouca recepção de sua obra pela crítica especializada, e comenta princípios que norteiam sua poesia.



CULT – A exemplo de Memórias Inventadas III (2007), Menino do Mato (2010) remonta ao tema da infância. Após muitas décadas dedicadas à poesia, suas obras mais recentes simbolizam o fechamento de um ciclo que retorna ao primitivo?



Manoel de Barros – Acho que não retorno ao primitivismo. Por antes acho que continuo primitivo, vez que meu caminho seria para encostar na semente da palavra, ou seja: o início do canto. Porque o ser humano começa a se expressar pelo canto.





CULT – Uma das marcas centrais de sua poesia é a tentativa de alcançar aquilo que está antes da palavra, ou seja, a sensibilidade primeira que desencadeia a poesia. Poderíamos então afirmar que a formação do poeta Manoel de Barros se deu fundamentalmente na infância?



Manoel – Eu fui abençoado por uma infância no mato. Não tínhamos vizinhos, não havia outras casas, outros meninos. Só nós – eu e dois irmãos. E o chão de formiga e de lagartixas. A mãe não tinha tempo de nos levar ao colo. O pai campeava. E a gente brincava de inventar brinquedos. Fui na luta para a poesia depois.





CULT – O trabalho com a linguagem em seus poemas revela a possibilidade que ela possui de alargar os horizontes do “primitivo” ou, ao contrário, é reflexo da impossibilidade de alcançar a essência poética?





Manoel – Eu sempre quis o criançamento da palavra. Eu sempre desejei o despropósito das palavras. A palavra que produzisse a melodia letral. Que sempre me parecesse a essência poética do absurdo.



CULT – Sua obra escapa a rótulos, como “poesia do Pantanal”, “poesia de folclore e costumes”, entre outros. Como definir a poesia de Manoel de Barros?





Manoel – Sabemos nós que poesia mexe com palavras e não com paisagens. Por isso não sou poeta pantaneiro, nem ecológico. Meu trabalho é verbal. Eu tenho o desejo, portanto, de mudar a feição da natureza, pelo encantamento verbal.





CULT – Ao longo de sua obra, o senhor criou diversas metáforas para designar a poesia. Qual a sua favorita?



Manoel – Acho que a favorita e que algumas pessoas citam é: poesia é voar fora da asa.





CULT – O fato de não ter acumulado uma fortuna crítica o incomoda? Na sua opinião, a que se deve certa resistência da crítica com relação à sua obra?





Manoel – Já tenho respondido sobre isso. Conversei uma vez com o bibliófilo José Mindlin, que era meu grande amigo, sobre essa rejeição da crítica pela minha poesia. Mindlin me afirmara que minha poesia, por não ter rima nem métrica, seria uma evolução ou uma revolução na poesia. Pois que não usando métrica nem rima, uso a melodia letral ou a harmonia silábica.



CULT – Como o poeta Manoel de Barros gostaria de ser lembrado?



Manoel – Gostaria de ser lembrado como um ser abençoado pela inocência. E que tentou mudar a feição da poesia.





Fonte: Revista CULT

http://revistacult.uol.com.br/home/2010/05/voar-fora-da-asa/

Postado por Claude Bloc às 11:02


depois do almoço



um doce - sorriso


em lábios esquecidos
agradável o dia



a primavera aparece


nas asas da borboleta
nem certo, nem errado



atravessei a ponte


para o outro lado
uma gota de orvalho



sozinha, poderosa


reflete raios de luz

11.16.2010

A arte da experiência meditativa poderia ser chamada de arte genuína. Tal arte não é construída para ser exibida ou difundida. Em vez disso, é um processo em perpétuo desenvolvimento no qual começamos a apreciar o que nos cerca na vida, o que quer que seja — não é preciso que seja, necessariamente, algo bom, belo ou agradável. A definição de arte, desse ponto de vista, é ter a habilidade de ver o caráter único da experiência cotidiana. A cada momento podemos estar fazendo as mesmas coisas — escovando os dentes diariamente, penteando os cabelos diariamente, preparando o jantar diariamente. No entanto, essa aparente repetição se torna única a cada dia. Surge um tipo de intimidade com nossos hábitos diários e com a arte neles envolvida. É por isso que é chamada de arte na vida cotidiana.




Chögyam Trungpa, trecho de “Arte na vida cotidiana”, capítulo de Dharma/arte: a percepção verdadeira

11.11.2010

Seis Regras para a Escrita

George Orwell offers six rules for writing:




Never use a metaphor, simile, or other figure of speech which you are used to seeing in print.

Never use a long word where a short one will do.

If it is possible to cut a word out, always cut it out.

Never use the passive where you can use the active.

Never use a foreign phrase, a scientific word, or a jargon word if you can think of an everyday English equivalent.

Break any of these rules sooner than say anything outright barbarous

11.10.2010

depois da chuva

depois da chuva
pombos disputando um pedaço de pão
entre baganas de cigarro e flores do jacarandá.
uma folha de verde intenso me acena
ela brilha na calçada cinza.
nuvens passam e passam
o céu voltou a ser azul.

11.05.2010

o silêncio espera a chuva



nenhum canto de pássaro


apenas o vento lá fora

11.04.2010

"Nossas vidas são como a respiração, como as folhas que crescem e caem. Quando realmente entendermos sobre as folhas que caem, seremos capazes de varrer os caminhos todos os dias e nos alegrar com nossas vidas neste mundo mutável"

Ajahn Chah
o vento embala a palmeira



o sabiá canta com perfeição


há um paraiso aqui e agora.
cresceram rapido



as folhas do plátano


milagre da primavera
Sem atenção você não vê


A primavera vem e passa

sem teu olhar de encantamento.
pobre da aranha

apenas folhas secas

cairam na teia
sentado sozinho

olhando os sabiás

imaginando o ninho

preguiça

hoje nem tento

aquele poeminha

depois eu invento

11.02.2010

saindo do escuro da terra

sempre em busca de luz

a planta ilumina-se

quando floresce.

10.07.2010

O poder da gratidão

“Man Expressing gratitude is transformative, just as transformative as expressing complaint. Imagine an experiment involving two people. One is asked to spend ten minutes each morning and evening expressing gratitude (there is always something to be grateful for), while the other is asked to spend the same amount of time practicing complaining (there is, after all, always something to complain about). One of the subjects is saying things like, "I hate my job, I can't stand this apartment. Why can't I make enough money? My spouse doesn't get along with me. That dog next door never stops barking and I just can't stand this neighborhood." The other is saying things like, "I'm really grateful for the opportunity to work; there are so many people these days who can't even find a job. And I'm sure grateful for my health. What a gorgeous day; I really like this fall breeze." They do this experiment for a year. Guaranteed, at the end of that year the person practicing complaining will have deeply reaffirmed all his negative stuff rather than having let it go, while the one practicing gratitude will be a very grateful person. What you practice is what you are; practice and the goal of practice are identical, cause and effect are one reality. Expressing gratitude can, indeed, change our way of seeing ourselves and the world.”



John Daido Loori Roshi

Gotas de chuva na vidraça
sabiás cantando embaixo das nuvens
experiências de primavera.

9.30.2010

O sol ilumina


novas folhas do platano

manhã de primavera.
Nuvem e vento


vários desenhos

no céu em movimento

Inteligência espontânea:entrevista com Allen Ginsberg

Este blog é um depósito onde coloco coisas essenciais, para tê-las reunidas, para alegria minha e dos demais frequentadores. Esta entrevista é fantástica, envolve muito do que gosto:budismo, poesia e geração beat.
O original está publicado no Dharma Arte, belissimo e valoroso site http://magazine.dharma.art.br/2009/12/inteligencia-espontanea-a/

A pérola está ai, para beneficio de todos, para iluminação geral, para o florescimento da compaixão.

Allen Ginsberg era aluno da Columbia University no início da década de 1940 quando conheceu Jack Kerouac. Juntos, integraram o movimento que mais tarde se tornaria conhecido como a geração beat. Em 1972, ele iniciou seus estudos com Chögyam Trungpa Rinpoche e continuou a praticar na tradição de Shambhala, e também com Gelek Rinpoche. A entrevista a seguir foi realizada pela Tricycle Magazine no apartamento de Ginsberg em Nova York na primavera de 1995, e é publicada com exclusividade em língua portuguesa por Dharma/Arte, em acordo com Tricycle Magazine. As imagens que acompanham esta entrevista foram gentilmente cedidas por Allen Ginsberg Estate, fundação responsável pelo legado de Allen Ginsberg.




Você poderia falar sobre as dúvidas de Alan Watts sobre o “Beat Zen, Square Zen, and Zen” [texto de Watts publicado em 1958 na Chicago Review] e a enorme influência da geração beat na literatura, assim como no budismo nos EUA?



Não acho que Watts percebia que ele próprio passaria seus implementos e seus ornamentos sacerdotais para Gary Snider, que esperasse que Gary adotasse sua linhagem e nela continuasse, ou que Phillip Whalen se tornaria um mestre zen da linhagem de Suzuki Roshi ou que haveria uma universidade budista como Naropa, fundada por outros poetas beat. Watts era um crítico da versão hippie do Zen Beat.



Críticos da geração beat, bem como dos transcendentalistas, costumam ver os dois grupos como tipos religiosos pouco usuais.



Bom, eu sou um budista excêntrico, não medito muito. Não me importo em ser um budista excêntrico. Por que não? Alguém tem de ser um budista excêntrico. Mas todos nós nos comprometemos com nossos mestres e trabalhamos seus ensinamentos por um longo tempo, fizemos o que podíamos dentro de nossas capacidades. Mesmo Burroughs, que definitivamente não é um budista, tem um sabor budista em suas imagens da transitoriedade com um tipo de coragem, um sentido de aventura espiritual e um reconhecimento da vacuidade junto com a compaixão, isso é surpreendente. Mas o sabor da poesia americana definitivamente mudou quando passou a ser permeada pelo sabor budista que agora tem.



O que significa sabor budista na poesia contemporânea?



Consciência de uma prática meditativa, consciência do paralelo entre a prática estética e artística do dharma e a atenção na poética. Interesse na inteligência espontânea. Interesse no tema como sutilmente sendo a mente em si mesma em vez de algo puramente materialista e externo. Talvez algo da doutrina dhármica, como a transitoriedade e “tornar-se amigo de seu ego”, e não a versão anterior, marxista, católica e puritana, que persegue e assassina o ego, decepa sua orelha ou queima seus manuscritos como fez Gogol. Ou escondendo sua homossexualidade como Henry James. Acho que é a ideia de “fazer da sua neurose o caminho” ou “fazer da sua neurose seu animal de estimação” através da consciência, transformando as sobras em tesouro, em vez de lutar contra ela, como outras ideologias fizeram neste século.



O budismo libertou a poesia contemporânea de qualquer fixação ideológica sólida pelo sentido de elegância que T.S. Eliot assinalara ao falar de Henry James como “detentor de uma mente tão refinada que nenhuma ideia poderia violá-la”. E eu diria a mesma coisa de mim [risos] ou de Burroughs. Quero dizer que Burroughs tem um milhão de ideias, mas não torna nenhuma delas sólida, de maneira permanente. Você possivelmente encontrará algum teórico europeu obcecado por uma ideia, marxista, católica ou nacionalista. Não acredito que possa dizer isso de muitos lamas. Na melhor das hipóteses eles têm uma mente tão refinada que nenhuma ideia poderia violá-la ou tornar-se sólida em sua consciência, capturá-los. É como a ideia de “eu” versus “não–eu”, ou forma versus vacuidade: sabedoria coemergente em vez de polarização.



O zen tem um estilo parecido: contraditoriedade, sabedoria louca baseada no fato de que as coisas tanto existem como não existem — verdades relativas e absolutas. Não é preciso abrir um buraco na cabeça para atingir a iluminação. Você pode ter várias ideias contraditórias na cabeça sem pirar, a habilidade negativa de Keats. Claro que você pode sair em busca “do fato e da razão”, desde que isso não seja uma insistência agressiva, irritabilidade que motive a busca do fato. É minha opinião. Mas historicamente há um tipo de respeito pela tradição budista, pelo imaginário budista, pela calma e pela contemplação, pela imperturbabilidade ou implacabilidade budista, pela quietude budista na literatura norte-americana desde os transcendentalistas até Sherwood Anderson, Marsden Hartley, os americanistas. Na linhagem boêmia, sempre houve um pouco de budismo.



Como você entende a espacialidade da América do Norte e o dharmakaya — o céu do espaço da Grande Mente, que tudo engloba?



Uma coisa que sempre notei na escrita de Kerouac — talvez todos os bons escritos transcendentais ou místicos — é que ela inclui um sentido de vastidão do espaço. E a obra de Kerouac possui uma consciência panorâmica, um tema a que ele se refere livro após livro. Cidade pequena, cidade grande tem um capítulo fantástico perto do final: uma visão de um jogo de futebol americano, uma cena no campo, uma cena nas arquibancadas, uma cena nas cabines de transmissão de rádio no alto das arquibancadas, então uma cena no alto das arquibancadas, e as nuvens acima do estádio, o céu vasto, e a câmera recua até o estádio lá embaixo, bem distante. É como um grão de areia no espaço, como diria Trungpa, então, aquela sensação de um espaço que tudo circunda, ou de um espaço que acomoda, ou de uma vastidão panorâmica, ou de espacialidade (mais uma das palavras preferidas de Trungpa), é recorrente na obra de Kerouac. Em Os vagabundos do dharma há muito disso, a intensificação da nostalgia, o reconhecimento da mortalidade e da transitoriedade, a compaixão pelo herói e uma tomada bem do alto, olhando de cima uma cena, como em um sonho. Sempre achei que a identificação feita por Trungpa do espaço em si mesmo e da espacialidade com a mente comum é um genial trabalho de tradução, de um conceito a outro, do dharmakaya ao espaço em si mesmo, e isso me levou a reconhecer que frequentemente a pedra-de-toque de Kerouac, ou seu ponto de referência, está nos poucos pontos no tempo nos quais tudo se abre para esse espaço e há um panorama do mundo suspenso nesse espaço. Ele retratou isso em romances, que são como “montanhas e rios sem fim”.


Quando você fala dessa linhagem de boêmia em relação à geração beat, o que a faz americana?




O aspecto pragmático. Também o desenvolvimento da espontaneidade na poesia, na pintura e no cinema. Também, em vez de habitar abstratamente, a distância, textos onde não há mestre, na verdade, buscamos e conseguimos alguns mestres. Fui para a Índia conscientemente atrás de um mestre.



Essa viagem foi em 1962?



Sim. Na verdade encontrei muitos deles, mas não achei nenhum com quem trabalhasse na época. Mas minha intenção era encontrar um mestre e descobrir “os segredos do Oriente”. Era simples assim. E encontrei mestres com quem mais tarde trabalhei nos EUA.



Esse impulso para encontrar um mestre nunca parece ter preocupado Kerouac.



Como escrevi no prefácio de Pomes all sizes, de Kerouac (City Lights, 1993): a qualidade mais pura de Kerouac era sua compreensão de que a vida é realmente um sonho (“um sonho já acabado”, ele escreveu), sendo também real, tanto real como um sonho, ambos ao mesmo tempo. A realização do sonho como a quididade deste universo penetrou a inteligência espiritual de todos os escritores beat em diferentes níveis, tanto a desconfiança de Burroughs de todos os “fenômenos sensoriais aparentes”, o Evening sun turned crimson de Herbert Huncke, a agudeza paradoxal de Corso — como em “A Morte, encondendo-se debaixo da pia da cozinha: ‘Eu não sou real’, gritou. ‘Sou apenas um boato espalhado pela Vida’ ”.



Mas a doutrina da consciência de sunyata — vacuidade —, com toda sua sabedoria transcendental que inclui consciência panorâmica, vastidão das cidades marítimas, uma apreciação bem-humorada dos mínimos detalhes do grande sonho, especialmente a “personagem na desoladora solidão desumana”, está mais clara e consistentemente estabelecida no corpo da prosa, da poesia, dos ensaios e de tudo de Kerouac.



Atualmente, temos uma boa noção, ainda que de certa forma surpreendente, do que o movimento beat produziu. Você tem alguma noção de onde isso tudo levará?



Tenho uma noção muito clara. Recentemente estive pensando muito sobre como a filosofia básica budista da compaixão de um bodhisattva para com os seres sencientes vai em sentido absolutamente contrário ao do pensamento político mais recente, de esquerda ou direita, em todo o mundo. Este é mais e mais “darwinista”. Aparentemente, o mundo caminha rumo ao caos, aos grupos armados, ao colapso dos governos centrais, a um colapso “da lei e da ordem”. Burroughs me mandou um artigo da Harper’s que retratava o caos emergente nos grandes países enquanto os pequenos países se dissolvem sob grupos armados.



Isso parece com o que Burroughs escreveu 15 ou 20 anos atrás, em Wild boys.



Sim. E aquele artigo era um esboço prático do que está acontecendo agora. Como os sérvios não podem controlar os sérvios da Bósnia, e os sérvios da Bósnia não podem controlar milícias internas menores, e isso se repete nas grandes cidades, onde as classes mais baixas estão ficando mais e mais isoladas, e os ricos mais ricos, com seguranças e telas de TV em suas portarias no estilo Park Avenue. Há mais e mais concentração de riqueza nas mãos de menos pessoas nos EUA, e mesmo com a melhor economia do mundo, ainda que todos tivessem o mesmo dinheiro, incendiaríamos ecologicamente o planeta. Essa é uma ideia inteiramente nova, que não haverá reparação à destruição imperial, e que não haverá “justiça econômica”. Esse é o ponto, junto com o lugar-comum de “expectativas menores” até mesmo para crianças de classe média alta. É uma situação paradoxal em que você quer um mundo civilizado, mas, em contrapartida, como você pode manter seu mundo civilizado quando os demais estão passando fome? E há as guerras civis no exterior, na América Latina, África, que também ocorrem nas ruas da América do Norte. Demagogia sobre homogeneidade e imigração está tomando forma tanto na América do Norte como na Alemanha. Quanta imigração você pode suportar? Então há todos os argumentos sobre quanto restringimos as reservas dos países que arruinamos por tomar refúgio aqui.



A Preposição 187.*



Sim, dado o desemprego atual, quantas pessoas mais podemos assimilar? E quantas pessoas podemos sustentar neste sistema social, ou a Europa pode manter no sistema social universal controlado pelo Governo de saúde e educação, quando há tal desemprego lá? A população está envelhecendo e há menos gente para pagar por isso, então, há argumentos óbvios para restringir a imigração em massa. Há argumentos sensatos, e também reacionários, mas a visão budista é a de uma compaixão universal e justa em todos os lugares. O único limite é que não deveria haver uma “compaixão idiota”. Você faz o que pode, que seja prático, mas a filosofia básica do budismo é o oposto do darwinismo.



Um budista conservador diria que permitir a entrada de muitas pessoas é compaixão idiota?



Sim, poderia dizer isso, mas a filosofia central é a da compaixão, e não a noção darwinista da sobrevivência do mais forte. A noção central é dar espaço em vez de agarrar-se a ele e fazê-lo seguro. Penso que o budismo tem uma tremenda sabedoria para neste momento contribuir no imenso dilema da vida política em todo o mundo, i.e., quais são os limites da compaixão? Quais são os limites em nossa relação com o caos e como nos relacionamos com o caos? Atualmente, politicamente falando, as noções budistas fundamentais são, realmente, radicalmente diferentes da filosofia de vida generalizada que é assumida como verdade entre os intelectuais, mesmo os intelectuais liberais.



Qual é a melhor maneira de continuar a introduzir a compaixão na política?



Bom, penso que todos têm uma inclinação natural para a compaixão. Ela acaba sendo encoberta pelas frustrações, pela ignorância, más experiências, karma negativo, mas, como dizem, por baixo disso, todos têm uma natureza búdica, que é compassiva. É exatamente o oposto da visão hobbesiana, para a qual sob todo homem há um animal rosnando. Basicamente, essa visão negativa está por trás de muitas filosofias neoconservadoras e até mesmo liberais. De certa forma, o ponto do budismo é ouro puro. Não acho que já tenha sido elevado popularmente a fonte de encorajamento, como inspiração política ou pessoal. O sentido generalizado de cinismo entre as gerações mais jovens, o sentido de alienação, a falta de sentimento, encerrar-se na tela de uma TV, a pseudoexperiência de zapear canais realmente não representam as emoções mais profundas que os mais jovens ou os mais velhos têm. As gerações mais antigas tinham a visão multimídia CIA-revista Time-NBC-CBS — uma negação igualmente cínica do coração, e uma ênfase na política hiper-racionalista que é igualmente imperfeita. O assim chamado “inimigo” dos mais jovens, as mídias de plástico, é um inimigo mais antigo do que correntemente se diz.





Há algum motivo para sermos otimistas?



Bem, pessoalmente, sim. Todos têm uma vida para viver e têm uma tendência de bodhisattvas, todos querem fazer o bem, então, penso que, no âmbito pessoal, sim. Em uma escala maior, parece não haver nenhuma esperança, a menos que a compaixão se torne o mais disseminado e importante ensinamento sobre como viver. Compaixão por si e pelos outros.



9.26.2010

As regras de Jack Kerouac para a prosa espontânea

Jack Kerouac's Rules of Spontaneous Prose



1. Scribbled secret notebooks, and wild typewritten pages, for yr own joy


2. Submissive to everything, open, listening


3. Try never get drunk outside yr own house


4. Be in love with yr life


5. Something that you feel will find its own form


6. Be crazy dumbsaint of the mind


7. Blow as deep as you want to blow


8. Write what you want bottomless from bottom of the mind


9. The unspeakable visions of the individual


10. No time for poetry but exactly what is


11. Visionary tics shivering in the chest


12. In tranced fixation dreaming upon object before you


13. Remove literary, grammatical and syntactical inhibition


14. Like Proust be an old teahead of time


15. Telling the true story of the world in interior monolog


16. The jewel center of interest is the eye within the eye


17. Write in recollection and amazement for yourself


18. Work from pithy middle eye out, swimming in language sea


19. Accept loss forever


20. Believe in the holy contour of life


21. Struggle to sketch the flow that already exists intact in mind


22. Dont think of words when you stop but to see picture better


23. Keep track of every day the date emblazoned in yr morning


24. No fear or shame in the dignity of yr experience, language & knowledge


25. Write for the world to read and see yr exact pictures of it


26. Bookmovie is the movie in words, the visual American form


27. In praise of Character in the Bleak inhuman Loneliness


28. Composing wild, undisciplined, pure, coming in from under, crazier the better


29. You're a Genius all the time


30. Writer-Director of Earthly movies Sponsored & Angeled in Heaven



9.25.2010

O amor pelo lugar

Alguns não entendem,
dizem que é apego e tudo mais,
este amor pelo lugar, pelas árvores que plantei,
pelo vento que vem do mar e que traz o cheiro dos campos
das planicies alagadas, dos arrozais.
Acham estranho, dizem:
e o budismo? tão apegado ainda
decerto não aprendeu nada.
seja como for, ignorância ou teimosura
ainda penso no Passo do Vigário
com amor redobrado em cada folha de grama.

Para não me sentir só ou talvez para me justificar um pouco
deixo aqui o poema do mestre Carlos Drumond de Andrade

Confidência do Itabirano


Alguns anos vivi em Itabira.

Principalmente nasci em Itabira.

Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.

Noventa por cento de ferro nas calçadas.

Oitenta por cento de ferro nas almas.

E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.



A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,

vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.



E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,

é doce herança itabirana.



De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:

esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,

este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;

este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;

este orgulho, esta cabeça baixa...



Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

Hoje sou funcionário público.

Itabira é apenas uma fotografia na parede.

Mas como dói!

9.23.2010

quieto amanhecer



um canto de pássaro


enfeita o silêncio

9.22.2010

Hai kai

uma a uma



flores caindo


sobre a grama

9.16.2010

entrevista com o Manoel de Barros


A inventividade e o primitivismo da poesia de Manoel de Barros


Publicado em 07 de maio de 2010



Wilker Sousa







Desde seus Poemas Concebidos sem Pecado, de 1937, Manoel de Barros publicou 20 livros. Avesso ao epíteto de “Poeta do Pantanal”, uma vez que “a poesia mexe com palavras e não com paisagens”, Manoel faz travessuras com a linguagem, “desaumatizando” a percepção de mundo: “Escrevo o idioleto manoelês archaico (idioleto é o dialeto que os idiotas usam para falar com as paredes e com as moscas). Preciso atrapalhar as significâncias. O despropósito é mais saudável que o solene” (Livro sobre Nada, 1996). O substrato de sua arte está essencialmente no universo pantaneiro, povoado de passarinhos, rãs, lesmas, pedras e rios. Porém, antes de simples ambientação e pretexto para o memorialismo, o Pantanal converte-se em poesia por meio do uso “reinventivo” da linguagem; daí a recusa a rótulos como aquele.



Tais eixos temáticos e estilísticos perpassam toda a obra de Manoel de Barros, em um dos projetos mais coerentes da lírica brasileira. Em seu mais novo livro, Menino do Mato, permanecem o primitivismo e o retorno à inocência perdida, simbolizados no tema da infância: “A maneira de dar canto às palavras o menino / aprendeu com os passarinhos”. Na esteira deste lançamento, é publicada a compilação de sua obra completa, o que permite ao leitor assistir ao desenrolar de mais de sete décadas dedicadas ao fazer poético. Nesta entrevista, concedida à CULT por e-mail, o poeta de 93 anos fala de seu novo livro, da pouca recepção de sua obra pela crítica especializada, e comenta princípios que norteiam sua poesia.



CULT – A exemplo de Memórias Inventadas III (2007), Menino do Mato (2010) remonta ao tema da infância. Após muitas décadas dedicadas à poesia, suas obras mais recentes simbolizam o fechamento de um ciclo que retorna ao primitivo?



Manoel de Barros – Acho que não retorno ao primitivismo. Por antes acho que continuo primitivo, vez que meu caminho seria para encostar na semente da palavra, ou seja: o início do canto. Porque o ser humano começa a se expressar pelo canto.





CULT – Uma das marcas centrais de sua poesia é a tentativa de alcançar aquilo que está antes da palavra, ou seja, a sensibilidade primeira que desencadeia a poesia. Poderíamos então afirmar que a formação do poeta Manoel de Barros se deu fundamentalmente na infância?



Manoel – Eu fui abençoado por uma infância no mato. Não tínhamos vizinhos, não havia outras casas, outros meninos. Só nós – eu e dois irmãos. E o chão de formiga e de lagartixas. A mãe não tinha tempo de nos levar ao colo. O pai campeava. E a gente brincava de inventar brinquedos. Fui na luta para a poesia depois.





CULT – O trabalho com a linguagem em seus poemas revela a possibilidade que ela possui de alargar os horizontes do “primitivo” ou, ao contrário, é reflexo da impossibilidade de alcançar a essência poética?





Manoel – Eu sempre quis o criançamento da palavra. Eu sempre desejei o despropósito das palavras. A palavra que produzisse a melodia letral. Que sempre me parecesse a essência poética do absurdo.



CULT – Sua obra escapa a rótulos, como “poesia do Pantanal”, “poesia de folclore e costumes”, entre outros. Como definir a poesia de Manoel de Barros?





Manoel – Sabemos nós que poesia mexe com palavras e não com paisagens. Por isso não sou poeta pantaneiro, nem ecológico. Meu trabalho é verbal. Eu tenho o desejo, portanto, de mudar a feição da natureza, pelo encantamento verbal.





CULT – Ao longo de sua obra, o senhor criou diversas metáforas para designar a poesia. Qual a sua favorita?



Manoel – Acho que a favorita e que algumas pessoas citam é: poesia é voar fora da asa.





CULT – O fato de não ter acumulado uma fortuna crítica o incomoda? Na sua opinião, a que se deve certa resistência da crítica com relação à sua obra?





Manoel – Já tenho respondido sobre isso. Conversei uma vez com o bibliófilo José Mindlin, que era meu grande amigo, sobre essa rejeição da crítica pela minha poesia. Mindlin me afirmara que minha poesia, por não ter rima nem métrica, seria uma evolução ou uma revolução na poesia. Pois que não usando métrica nem rima, uso a melodia letral ou a harmonia silábica.



CULT – Como o poeta Manoel de Barros gostaria de ser lembrado?



Manoel – Gostaria de ser lembrado como um ser abençoado pela inocência. E que tentou mudar a feição da poesia.





Fonte: Revista CULT

http://revistacult.uol.com.br/home/2010/05/voar-fora-da-asa/

Postado por Claude Bloc às 11:02

0 comentários:

Hai kai

tão linda
tão breve
flor da ameixeira

dogma

Uma proposta para hoje: tentemos falar com outros em seus próprios termos, deixando que sejam como são, interessando-nos por eles, sem tentarmos trazê-los para nossa cena e sem nos fecharmos entre os que pensam como nós. Não parece ótimo?




A fim de ajudar alguém, primeiro eleve sua cabeça e ombros. Então, não tente converter as pessoas ao seu dogma, mas apenas as encoraje. Independentemente da profissão que tenham — quer sejam fazendeiros, advogados ou taxistas —, primeiro, eleve sua consciência, e então converse com eles com as palavras deles. Não tente fazer com que se juntem ao clube Shambhala ou à cena budista ou a qualquer coisa assim. Apenas deixe que sejam como são. Tomem um drinque juntos, jantem, saiam — mantenha a simplicidade.



O ponto principal definitivamente não é fazer com que se tornem membros de sua organização. Esse é o ponto menos importante. O ponto principal é ajudar os outros a serem, à sua própria maneira, bons seres humanos. Não tentamos converter as pessoas. Elas podem converter-se por si próprias, apenas mantemos contato com elas. Usualmente, em qualquer organização, as pessoas não conseguem deixar de arrastar os outros para a sua cena ou sua viagem, por assim dizer. Esse não é o nosso plano. Nosso plano é assegurar que os indivíduos, quaisquer que sejam, tenham uma vida boa. Ao mesmo tempo, deveríamos estar em contato com as pessoas, da maneira que pudermos. Isso é muito importante, não porque tentamos converter os outros, mas porque queremos nos comunicar.



Chögyam Trungpa, “Helping Others” (Ajudando os outros), in Great Eastern Sun (Sol do Grande Leste)

http://pontos.dharma.art.br/dogma-0

9.15.2010

Buddhism and Kerouac on How to Blog | elephant journal

Buddhism and Kerouac on How to Blog elephant journal

Getting Started!
Want to reach a wider audience but don’t know where to start? Believe it or not, the Buddhist tradition offers deep insight into how to blog to make the world a better place. In this post, I combine Jack Kerouac’s Rules for Spontaneous Prose with the three tenets of the Zen Peacemakers to derive some simple practical tips for joining the global conversation. Kerouac was a great teacher to me of the Zen Peacemaker’s first two tenets (Not-Knowing and Bearing Witness), although I eventually looked elsewhere for inspiration regarding how to apply the insights of Not-Knowing and Bearing Witness through action in the world. I list appropriate rules from Kerouac under each tenet.

1. Not-knowing
22. Don’t think of words when you stop but to see the picture better.
5. Something you feel will find its own form.
24. No fear or shame in the dignity of yr experience, language & knowledge
29. You’re a genius all the time
10. No time for poetry but exactly what is
13. Remove literary, grammatical and syntactical inhibition
I scrutinized, hesitated and edited for months regarding my first blog post. When I talked to my Zen teacher about it, she gave me a koan: how do you step off the 100 foot pole?
You just do it! I was crippled by fear of how readers would receive my writing. It turned out that that first post went ignored and later posts that I rattled off in a few minutes received several hundred views. You can’t know ahead of time! The important thing is to let go of our expectations regarding quality and reader interest and just get in the habit of sharing. Be thoughtful and adapt your style according to response, but watch out for getting hung up on ideas of what you should be writing.

2. Bearing Witness
1. Scribbled secret notebooks, and wile typewritten pages, for yr own job
2. Submissive to everything, open, listening
15. Telling the true story of the world in interior monolog
Once you’ve put aside ideas about what you should or shouldn’t be writing, look around. What moves you? What makes you happy? What makes you sad? What makes you excited? Readers will relate if you share your genuine reactions to the world. How can we bypass the ruminations of the head and touch readers at the heart, helping them feel what you feel? Pictures help, as do attention-getting headlines and subsections. Most people scan first on the web as opposed to carefully reading long chunks of text.

3. Loving Action
While Kerouac embodied the first two tenets, I don’t think he embodied the 3rd tenet as Zen Peacemakers’ defines it. He observed and commented on the suffering of the world, but didn’t take actions to alleviate it (to my knowledge).
Digital technology create new opportunities. We no longer need to sit idly by as corporations dictate the airwaves. Through blogging, we can become the media and use it to create the society we want. Elsewhere, I’ve explained how the internet could help us build a global community committed to reducing suffering and also seven practical ways we could use online media to make the world a better place.

9.14.2010

Mais umas do Manoel de Barros

Manoel de Barros - O Poeta Fingidor


Manoel de Barros diz a verdade quando afirma que é mentiroso. Com histórias inventadas, ele construiu para si uma biografia - e também uma obra poética imaginativa e fascinante

Por Nina Rahe




Manoel de Barros gosta mais de viajar por palavras "do que de trem" - e é por isso que todas as manhãs, na rotina de vadiagem com as letras, ele se fecha no "escritório de ser inútil", onde diz ter sossego de pedra. Inventou um dialeto, o "manoelês", de onde foram pinçadas as expressões acima. Hoje com 93 anos, esse advogado de formação e fazendeiro por necessidade conseguiu - depois de muito trabalho para tornar o negócio da terra rentável - comprar seu ócio e ser exclusivamente poeta. Em Campo Grande (MS), onde mora numa casa modesta, de tijolos aparentes, com sua mulher, Stella, dedica-se a não "fazer nada" - que é como ele chama o escrever. O resultado desse ócio pode ser visto em seu novo livro, Menino do Mato, e, em retrospecto, na volumosa Poesia Completa, também recentemente lançada. Autor de uma série de livros chamada Memórias Inventadas (A Infância, A Segunda Infância, A Terceira Infância), Manoel de Barros diz que escrever o que não acontece é a tarefa de poesia. E é no escritório - onde ele passa horas para encontrar um verso que fique em pé - que a sua imaginação desabrocha. Ali, cercado de livros e de miniaturas de santos e animais, ele me recebeu algumas vezes para conversar, com o intuito de fazer esta reportagem. "Esses dias veio um outro jornalista aqui. Tive que mentir para ele tudo que estou agora mentindo para você", diz Manoel, rindo.



Quando afirma que mente, Manoel de Barros diz a verdade. Em uma entrevista concedida ao jornalista José Castello há alguns anos, por exemplo, ele contou que se encontrava com um grupo de psicanalistas uma ou duas vezes por semana para tomar umas cervejas. Elas achavam que sua poesia comprovava as teorias do francês Jacques Lacan (1901-1981), líder da escola seguida por elas. "Eu falo, e elas ficam impressionadíssimas", disse ele na ocasião. Passados mais de dez anos dessa declaração, no entanto, Manoel já não se lembra mais. " Lacanianas?" - ele ri - " Pode ser que eu tenha mentido. Eu sou muito mentiroso".



Manoel diz que herdou da mãe a sensibilidade, coisa que, segundo ele, "é transmitida pelo sangue". Alice Pompeu de Barros era aluna de violino na cidade de Cuiabá, no Mato Grosso. Casou cedo e, para acompanhar o marido, mudou-se para o Pantanal. Manoel era ainda criança, e a mãe, acumulando as funções de lavadeira, cozinheira e passadeira, guardou a música apenas em sua lembrança. Até aí, tudo verdade. Mas para o jornalista Ricardo Câmara, que está escrevendo a biografia do poeta, Manoel descreveu uma cena emocionante: ele contou que, antes de se mudar, a mãe tocou pela última vez seu violino, pois achava que no Pantanal não haveria lugar para música. "Pode ser que eu tenha falado isso, mas foi invenção", diz. E explica: "É uma invenção possível. Podia ser que ela tivesse tomado uma atitude dessa; no fundo, era uma verdade que ela queria fazer isso". Mentira, para Manoel de Barros, é dizer que se vai comprar pão quando se vai a outro lugar qualquer. Já imaginação é coisa profunda e, na imaginação, Manoel pode fazer com que se cumpra o destino da mãe. Num dos poemas do livro Menino do Mato, no poema V, Alice arranja uma horinha para seu violino no meio do Pantanal e toca Vivaldi para a família toda. Mentira? Nada disso. Para Manoel, é aí que começa a poesia.



O PINTOR QUE NÃO EXISTE



Se o poeta é um fingidor, como dizia o português Fernando Pessoa (1888-1935), a sua dor (ainda que fingida) não é menos verdadeira. Desde o falecimento de seu filho João na queda de um avião monomotor, Manoel de Barros "não sai de dentro de si nem para pescar", como ele próprio diz num poema. Abandonou as caminhadas, as idas ao Pantanal e as viagens anuais para o Rio de Janeiro. E, embora a reclusão não tenha rarefeito a poesia, palavras como abandono, tristeza e solidão habitam o novo livro. Em Menino do Mato, não há possibilidades de sair daquele "lugar imensamente e sem nomeação", que "quase só tinha bicho solidão e árvores", e era preciso "desver o mundo para expulsar o tédio". Em seus primeiros anos no Pantanal, Manoel ficava meio solto no chão - era o menino do mato. Ali entrou em "estado de árvore", depois em "estado de palavra", para só assim poder "enxergar as coisas sem feitio" - eis, em manoelês castiço, o resumo de sua arte poética. O novo livro é expressão dessa infância vivida na terra, em um lugar virgem e absolutamente solitário, onde a poesia já era o brincar com as palavras. "Era a nossa maneira de sair do enfado", diz um dos poemas.



Por volta dos dez anos de idade, Manoel deixou de se sentir "como um pedaço de formiga na estrada". Foi estudar no Rio de Janeiro e chegou a morar durante um ano em Nova York, onde desenvolveu a sensibilidade para as artes. Tomou gosto por Paul Klee, Marc Chagall, Van Gogh e Pablo Picasso. Acha que tal viagem influenciou decisivamente sua poesia. "Eu tinha um sentimento muito primitivo da vida e da literatura. Queria escrever em guarani", afirma sem esconder o riso. Já disse em entrevistas, no entanto, que seu pintor preferido era o boliviano Rômulo Quiroga, o que fez com que alguns passassem a procurar por suas obras. Outra mentira: Rômulo é, na verdade, apenas uma criação poética, inspirada em um pintor de paredes. "Eu achei o nome bacana e aí inventei esse negócio".



Ouvir Manoel contar suas histórias é ficar em dúvida permanente. Eis uma delas: num dia, cumprindo o caminho entre a fazenda que possui no Pantanal e Campo Grande, resolveu parar em um boteco. Fez a curva, avançou na entrada do local e se esqueceu de frear o carro. Só foi se lembrar quando estava praticamente em cima do balcão. Em uma segunda conversa, pergunto mais detalhes. Ele me olha num misto de dúvida e riso. "O senhor inventou?", pergunto. "Não, não, é verdade. Aconteceu mesmo". E o poeta emenda mais uma história: quando estava dirigindo rumo à fazenda, depois de muita chuva e com uma estrada enlameada, seu carro deu três cambalhotas. Além dele, estavam como passageiros a mulher e os filhos. "Ninguém se machucou". Ainda bem.



TIRO NA TESTA



Depois de finalizar Menino do Mato, Manoel pensa no próximo livro. Pretende fazer uma homenagem a Bernardo - em "manoelês", "um homem percorrido de existências, que faz encurtamento de águas, a quem os camaleões estão favoráveis e para quem os passarinhos aveludam seus cantos". Analfabeto, Bernardo trabalhou na fazenda de Manoel e pouco falava. "Não sabia nem o nome das letras de uma palavra, mas soletrava rã melhor que mim", escreveu sobre o amigo. Assim, Bernando acabou se transformando em personagem da obra do poeta, além de um dos seus de seus alter-egos mais recorrentes - presente em Livro de Pré-Coisas (1985), O Guardador das Águas (1989) e, mais recentemente, em Menino do Mato.



Em 2003, Bernardo morreu no Asilo São João Bosco, em Campo Grande. Sem documentos, sobraram poucas informações sobre ele: era solteiro, moreno e evangélico, diz no registro do asilo. Mas Manoel nega que Bernardo tivesse religião. Talvez tivesse tendência para, já que era totalmente preso à natureza. Enterraram-no embaixo de uma árvore. "Pelo menos isso, vai escutar os passarinhos", o poeta diz."Ele era inteiramente primário e inocente como uma criança, e essa inocência foi o que pregou nas minhas palavras", conta Manoel. "Eu o conheci como santo, e queria retribuir fazendo um Bernardo que chegasse a ser, literariamente, um santo".



O poeta tem muito medo do mistério de Deus. Diz que não consegue entender como pode uma borboleta voar sem motor nas costas enquanto o homem precisa ter motor a óleo. Uma vez, ele encontrou seu vizinho no telhado da casa, vestindo uma roupa diferente. "O que você vai fazer?", perguntou. "Eu vou voar", respondeu o homem. Tentou desaconselhá-lo, mas o vizinho já estava convencido, com sua asa nas costas, de que sairia voando. Pulou e quase morreu. "E é verdade. Não é mentira não", avisa Manoel, antes que alguém duvide.



Talvez seja este mesmo mistério que explique sua "saúde irritante", como ele gosta de chamar. Dor de cabeça só conhece de nome, e fica mesmo espantado quando as pessoas descrevem como ela é. "Para você, morrer só com um tiro na testa", advertiu o médico. "Não foi para mim não que ele disse isso, foi para um amigo", mais tarde corrige, com um cuidado surpreendente com a verdade. Mas para Manoel a frase também funciona. Palavra é para ele coisa que ocupa o dia inteiro; e a noite também, já que vez ou outra sonha com elas. Toma logo nota - se deixar para depois, esquece - e durante a sua vagabundagem no escritório, o sonho ajuda a concluir uma poesia ou outra. Sonhos, mentiras e palavras - elementos que, somados, resultam numa das obras mais surpreendentes e fascinantes da literatura brasileira.



------



Nina Rahe é jornalista.



OS LIVROS

Menino do Mato, de Manoel de Barros. Editora Leya Brasil, 96 págs., R$29,90.

Poesia Completa — Manoel de Barros, de Manoel de Barros. Editora Leya Brasil, 496 págs., R$69,90.


Retirei de http://bravonline.abril.com.br/conteudo/literatura/manoel-barros-poeta-fingidor-574757.shtml

9.13.2010

flores do ipê
devagar
aprendi a ver

9.08.2010

"Viva um dia de cada vez...não tente se apressar,ajeitando as coisas para amanhã,pois amanhã pode nunca vir a ser. Aproveite plenamente o dia de hoje; faça as coisas maravilhosas q sempre quis fazer, nâo de qualquer maneira e apressadamente, mas com verdadeira alegria!"

Eileen Cady

8.30.2010

Algumas dicas sobre como escrever de Allen Ginsberg

Chögyam Trungpa remarked, “Writing is writing the mind,” thus the title. Ground, Path, and Fruition are common stages of Tibetan style dharma teaching, often condensed into slogans for mind-training traditioned in Eastern thought.


Here, Ground means the situation of mind: we’re all amateurs at reading our own minds, but that’s all we have to work with, mutability of consciousness, appearance of chaos, our own confusion, inconsistency, awareness, humors & mental information.

Path: How to use, order & select aspects of mind, how accept & work with ordinary mind? We can only write what we know & teach same, what tricks & techniques of focus are practicable?

Fruition: What to expect, what to aim for, what result?

Candor: to reveal ourselves to ourselves, reveal ourselves to others, resolve anxiety of confusion & relieve our own & others’ sufferings.

Two decades’ experiences teaching poetics at Naropa Institute, half decade at Brooklyn College, and occasional workshops at Zen Center & Shambhala/Dharmadhatu weekends have been boiled down to brief mottoes from many sources found useful to guide myself and others in the experience of “writing the mind.”

~ Allen Ginsberg, 2/19/94
MIND WRITING SLOGANS


“First thought is best in Art, second in other matters.” -William Blake



I. GROUND (Situation, or Primary Perception)

1. “First Thought, Best Thought” -Chögyam Trungpa, Rinpoche

2. “Take a friendly attitude toward your thoughts.” -Chögyam Trungpa, Rinpoche

3. “The Mind must be loose.”-John Adams

4. “One perception must immediately and directly lead to a further perception.” -Charles Olson, Projective Verse

5. “My writing is a picture of the mind moving.” -Philip Whalen

6. Surprise Mind -Allen Ginsberg

7. “The old pond, a frog jumps in, Kerplunk!” -Basho

8. “Magic is the total delight (appreciation) of chance” -Chögyam Trungpa, Rinpoche

9. “Do I contradict myself? Very well, then I contradict myself, (I am large. I contain multitudes.)” -Walt Whitman

10. “…What quality went to form a man of achievement, especially in literature? …Negative capability, that is, when a man is capable of being in uncertainties, mysteries, doubts, without any irritable reaching after fact & reason.”-John Keats

11. “Form is never more than an extension of content.” -Robert Creeley to Charles Olson

12. “Form follows function.” -Frank Lloyd Wright

13. Ordinary Mind includes eternal perceptions.-A.G.

14. “Nothing is better for being Eternal/ Nor so white as the white that dies of a day.” -Louis Zukofsky

15. Notice what you notice.-A.G.

16. Catch yourself thinking-A.G.

17. Observe what’s vivid.-A.G.

18. Vividness is self-selecting.-A.G.

19. “Spots of Time” -William Wordsworth

20. If we don’t show anyone we’re free to write anything -A.G.

21. “My mind is open to itself.” -Gelek Rinpoche

22. “Each on his bed spoke to himself alone, making no sound.” -Charles Reznikoff



II. PATH (Method or Recognition)

23. “No ideas but in things.” “…No ideas but in the Facts.” -William Carlos Williams

24. “Close to the nose.”-W.C.Williams

25. “Sight is where the eye hits.” -Louis Zukofsky

26. “Clamp the mind down on objects.”-W.C.Williams

27. “Direct treatment of the thing…” (or object.)” -E.Pound, 1912

28. “Presentation, not reference…” -Ezra Pound

29. “Give me a for instance.” -Vernacular

30. “Show not tell.”-Vernacular

31. “The natural object is always the adequate symbol.” -Ezra Pound

32. “Things are symbols of themselves.”-Chögyam Trungpa, Rinpoche

33. “Labor well the minute particulars, take care of the little ones/ He who would do good for another must do it in minute particulars/ General Good is the plea of the Scoundrel Hypocrite and Flatterer/ For Art & Science cannot exist but in minutely organized particulars” -William Blake

34. “And being old she put a skin/On everything she said.” -W.B.Yeats

35. “Don’t think of words when you stop but to see the picture better.” -Jack Kerouac

36. “Details are the Life of Prose.” -Jack Kerouac

37. Intense fragments of spoken idiom, best. -A.G.

38. “Economy of Words” -Ezra Pound

39. “Tailoring” -Gregory Corso

40. Maximum information, minimum number of syllables. -A.G.

41. Syntax condensed, sound is solid. -A.G.

42. Savor vowels, appreciate consonants.-A.G.

43. “Compose in the sequence of the musical phrase, not in sequence of a metronome.”-Ezra Pound

44. “…awareness…of the tone leading of the vowels.” -Ezra Pound

45. “…an attempt to approximate classical quantitative meters…” -Ezra Pound

46. “Lower limit speech, upper limit song”-Louis Zukofsky

47. “Phanopoeia, Melopoeia, Logopoeia.” -Ezra Pound

48. “Sight, Sound & Intellect.” -Louis Zukofsky

49. “Only emotion objectified endures.” – Louis Zukofsky







III. FRUITION (Result or Appreciation)

50. Spiritus = Breathing = Inspiration = Unobstructed Breath

51. “Alone with the Alone” -Plotinus

52. Sunyata (Skt.) = Ku (Japanese) = Emptiness

53. “What’s the sound of one hand clapping?” -Zen Koan

54. “What’s the face you had before you were born?” -Zen Koan

55. Vipassana (Skt.) = Clear Seeing

56. “Stop the world” -Carlos Casteneda

57. “The purpose of art is to stop time.” -Bob Dylan

58. “The unspeakable visions of the individual.”-J.K.

59. “I’m going to try speaking some reckless words, and I want you to try to listen recklessly.” -Chuang Tzu, (Tr. Burton Watson)

60. “Candor” -Whitman

61. “One touch of nature makes the whole world kin.” -Shakespeare

62. “Contact”-A Magazine, Nathaniel West & W.C. Williams, Eds.

63. “God Appears & God is Light/ To those poor Souls who dwell in Night/ But does a Human Form Display/ To those who Dwell in Realms of day.” -W. Blake

64. Subject is known by what she sees.-A.G.

65. Others can measure their visions by what we see.-A.G.

66. Candor ends paranoia.-A.G.

67. “Willingness to be Fool.”-Chögyam Trungpa, Rinpoche

68. “day & night/you’re all right”-Gregory Corso

69. Tyger: “Humility is Beatness.” -Chögyam Trungpa, Rinpoche & A.G.

70. Lion: “Surprise Mind”-Chögyam Trungpa, Rinpoche & A.G.

71. Garuda: “Crazy Wisdom Outrageousness” -Chögyam Trungpa, Rinpoche

72. Dragon: “Unborn Inscrutability” -Chögyam Trungpa, Rinpoche

73. “To be men not destroyers” -Ezra Pound

74. “Speech synchronizes mind & body.” -Chögyam Trungpa, Rinpoche

75. “The Emperor unites Heaven & Earth.” -Chögyam Trungpa, Rinpoche

76. “Poets are the unacknowledged legislators of the world.” -Shelley

77. “Make it new”-Ezra Pound

78. “When the mode of music changes, the walls of the city shake”-Plato

79. “Every third thought shall be my grave” -W. Shakespeare, The Tempest

80. “That in black ink my love may still shine bright” -W. Shakespeare, Sonnets

81. “Only emotion endures” -Ezra Pound

82. “Well while I’m here I’ll do the work-and what’s the Work? To ease the pain of living. Everything else, drunken dumbshow.” -A.G.

83.”…Kindness, sweetest of the small notes in the world’s ache, most modest & gentle of the elements entered man before history and became his daily connection, let no man tell you otherwise.” -Carl Rakosi

84. “To diminish the mass of human and sentient sufferings.” -Gelek Rinpoche



A.G.

Naropa Institute, July 1992

New York, March 5, 1993

New York, June 27, 1993


http://www.elephantjournal.com/2008/03/mind-writing-slogans-via-allen-ginsberg/

8.27.2010

Zen e a arte de proteger o Planeta

Zen and the art of protecting the planet

In a rare interview, zen buddhist master Thich Nhat Hahn warns of the threat to civilisation from climate change and the spiritual revival that is needed to avert catastrophe


It is not exactly a traditional Sunday stroll in the English countryside as 84-year-old Vietnamese zen master Thich Nhat Hanh leads nearly a thousand people through the rolling Nottinghamshire hills in walking meditation.




The silent procession takes on the shape of a snake as it wends its way extremely slowly through a forest glade and an apple orchard. The assembled throng are asked to deeply experience each step they take on the earth in order to be mindful in the present moment.



Thay, as he is known, steps off the path into a field of tall grass and sits quietly in meditation. He exudes a sense of serenity, born of his 68 years' practice as a monk.



Despite having hundreds of thousands of followers around the world and being viewed with the same reverence as the Dalai Lama, Thay is little known to the general public. He has chosen to shun the limelight and avoid the shimmer of celebrity endorsement in order to focus on building communities around the world that can demonstrate his ethical approach to life. There are monasteries in France, America and Germany as well as groups of supporters that meet all over the world, including more than 20 "sanghas" across the UK.



He is seeking to create a spiritual revival that replaces our consumption-based lives with a return to a simpler, kinder world based on deep respect for each other and the environment.



He rarely gives interviews but recognises that the enormous challenges facing the world, combined with his own increasing age and frailty, means it is important to use what time and energy he has left to contribute what he can to re-energising society and protecting the planet.



For a man of his age, Thay keeps to a punishing schedule. After having lectured to thousands at London's Hammersmith Apollo, Thay has come to Nottingham for a five day retreat, then goes on to a three month tour of Asia, before returning for a winter retreat at his Plum Village community in France, where he has lived in exile for more than 40 years.



Thay, a prolific author with more than 85 titles under his belt, has taken a particular interest in climate change and recently published the best-selling book 'The World We Have – A Buddhist approach to peace and ecology.'



Tranquilising ourselves with over-consumption

In it, he writes: "The situation the Earth is in today has been created by unmindful production and unmindful consumption. We consume to forget our worries and our anxieties. Tranquilising ourselves with over-consumption is not the way."



In his only interview in the UK, Thay calls on journalists to play their part in preventing the destruction of our civilisation and calls on corporations to move away from their focus on profits to the wellbeing of society.



He says that it is an ill-conceived idea that the solution to global warming lies in technological advances. While science is important, even more so is dealing with the root cause of our destructive behaviour: "The spiritual crisis of the West is the cause for the many sufferings we encounter. Because of our dualistic thinking that god and the kingdom of god is outside of us and in the future - we don't know that god's true nature is in every one of us. So we need to put god back into the right place, within ourselves. It is like when the wave knows that water is not outside of her.



"Everything we touch in our daily lives, including our body, is a miracle. By putting the kingdom of god in the right place, it shows us it is possible to live happily right here, right now. If we wake up to this, we do not have to run after the things we believe are crucial to our happiness like fame, power and sex. If we stop creating despair and anger, we make the atmosphere healthy again.



"Maybe we have enough technology to save the planet but it is not enough because the people are not ready. This is why we need to focus on the other side of the problem, the pollution of the environment not in terms of carbon dioxide but the toxic atmosphere in which we live; so many people getting sick, many children facing violence and despair and committing suicide.



Spiritual pollution

"We should speak more of spiritual pollution. When we sit together and listen to the sound of the [meditation] bell at this retreat, we calm our body and mind. We produce a very powerful and peaceful energy that can penetrate in every one of us. So, conversely, the same thing is true with the collective energy of fear, anger and despair. We create an atmosphere and environment that is destructive to all of us. We don't think enough about that, we only think about the physical environment.



"Our way of life, our style of living, is the cause of it. We are looking for happiness and running after it in such a way that creates anger, fear and discrimination. So when you attend a retreat you have a chance to look at the deep roots of this pollution of the collective energy that is unwholesome.



"How can we change the atmosphere to get the energy of healing and transformation for us and our children? When the children come to the retreat, they can relax because the adults are relaxed. Here together we create a good environment and that is a collective energy."



Capitalism as a disease

Thay talks about capitalism as a disease that has now spread throughout the world, carried on the winds of globalisation: "We have constructed a system we cannot control. It imposes itself on us, and we become its slaves and victims."



He sees those countries that are home to Buddhism, such as India, China, Thailand and Vietnam, seeking to go even beyond the consumerism of the West: "There is an attractiveness around science and technology so they have abandoned their values that have been the foundation of their spiritual life in the past," he says. "Because they follow western countries, they have already begun to suffer the same kind of suffering. The whole world crisis increases and globalisation is the seed of everything. They too have lost their non-dualistic view. There are Buddhists who think that Buddha is outside of them and available to them only after they die.



"In the past there were people who were not rich but contented with their living style, laughing and happy all day. But when the new rich people appear, people look at them and ask why don't I have a life like that too, a beautiful house, car and garden and they abandon their values."



While Thay believes that change is possible, he has also come to accept the possibility that this civilisation may collapse. He refers to the spiritual principle that by truly letting go of the 'need' to save the planet from climate change, it can paradoxically help do just that.



The catastrophe to come



"Without collective awakening the catastrophe will come," he warns. "Civilisations have been destroyed many times and this civilisation is no different. It can be destroyed. We can think of time in terms of millions of years and life will resume little by little. The cosmos operates for us very urgently, but geological time is different.



"If you meditate on that, you will not go crazy. You accept that this civilisation could be abolished and life will begin later on after a few thousand years because that is something that has happened in the history of this planet. When you have peace in yourself and accept, then you are calm enough to do something, but if you are carried by despair there is no hope.



"It's like the person who is struck with cancer or Aids and they learn they have been given one year or six months to live. They suffer very much and fight. But if they come to accept that they will die and they prepare to live every day peacefully and they enjoy every moment, the situation may change and the illness may go away. That has happened to many people."



Thay says that the communities his Order of Interbeing is building around the world are intended to show that it is possible to "live simply and happily, having the time to love and help other people. That is why we believe that if there are communities of people like that in the world, we will demonstrate to the people and bring about an awakening so that people will abandon their course of comforts. If we can produce a collective awakening we can solve the problem of global warming. Together we have to provoke that type of awakening."



'One Buddha is not enough'

He stops for a moment and goes quiet: "One Buddha is not enough, we need to have many Buddhas."



Thay has lived an extraordinary life. During the Vietnam War he was nearly killed several times helping villagers suffering from the effects of bombing. When visiting America, he persuaded Martin Luther King to oppose the war publicly, and so helped to galvanize the peace movement. In fact King nominated him for the Nobel Peace Prize in 1968.



In the following decade Thay spent months on the South China Sea seeking to save Vietnamese and Cambodian refugees from overcrowded boats and, in more recent years, he led members of the US Congress through a two-day retreat and continues to hold reconciliation retreats for Israelis and Palestinians at Plum Village.



His whole philosophy is based on watching the breath and walking meditation to stay in the present moment rather than dwelling on the past or worrying about the future.



He says that within every person are the seeds of love, compassion and understanding as well as the seeds of anger, hatred and discrimination. Our experience of life depends on which seeds we choose to water.



To help the creation of a new global ethic and sustain those positive seeds, Thay's Order of Interbeing has distilled the Buddha's teachings on the Four Noble Truths and the Noble Eightfold Path into five core principles.



The Five Mindfulness Trainings, updated in the last year to make them relevant to our fast changing world, are not a set of rules but a direction to head in. Beyond calling for mindful consumption, they encourage an end to sexual misconduct as well as a determination "not to gamble, or to use alcohol, drugs or any other products which contain toxins, such as certain websites, electronic games, TV programmes, films, magazines, books and conversations."