Alguns não entendem,
dizem que é apego e tudo mais,
este amor pelo lugar, pelas árvores que plantei,
pelo vento que vem do mar e que traz o cheiro dos campos
das planicies alagadas, dos arrozais.
Acham estranho, dizem:
e o budismo? tão apegado ainda
decerto não aprendeu nada.
seja como for, ignorância ou teimosura
ainda penso no Passo do Vigário
com amor redobrado em cada folha de grama.
Para não me sentir só ou talvez para me justificar um pouco
deixo aqui o poema do mestre Carlos Drumond de Andrade
Confidência do Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
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