11.03.2005

Cachorro Companheiro


Visão da Praça em Antonina - PR
Uma cidade sossegada no litoral paranaense.

11.02.2005

poema

"As violetas são violetas, não podem ser rosas. As rosas são rosas, não podem ser violetas. Germinar, florescer, secar, envelhecer, adoecer: são estados. Trabalhando seriamente cada estado pode ser belo como uma flor. Com essas flores, embelezamos o instante presente do Universo."
Shundo Aoyama Rôshi - Para uma pessoa bonita.

8.22.2005

Poesias de Ryokan III

Minha vida pode parecer melancólica,
Mas viajando por este mundo
Eu me entreguei ao Céu.
No meu saco, três quartos de arroz;
Junto ao fogão, uma pilha de lenha.
Se alguém perguntar qual é a marca da
iluminação ou ilusão
eu não sei dizer - fortuna e honra não passam de poeira.
Quando a chuva da noite cai, eu me sento em meu retiro
E me espreguiço em resposta.

8.02.2005

haikai IV

mundo barulhento
silêncio mesmo
apenas aqui dentro

Filosofia de Ação

É MELHOR O GOVERNO QUE MENOS GOVERNA
Deixa-me ser livre de ligamentos e tendências
para me tornar uma forma
que seja menos que espírito
DEIXA-ME SER UM LOBO
uma lagarta, um salmão
ou
uma
LONTRA
nadando nas águas prateadas
sob o céu avermelhado.
Fosse eu uma mariposa ou um condor
tu me verias voar!
Amo esta carne da qual sou feito!
Nela mergulho para encontrar a forma vital mais simples!

AH! EIS A CRIANÇA!!!

O QUE É A LIBERDADE QUANDO UMA CLASSE
MATA A OUTRA DE FOME?

Michael McClure

7.15.2005

Aprecie sua vida

"O único caminho é apreciar sua vida. Ainda que esteja praticando o zazen*, contando sua respiração como um caramujo, você consegue apreciar sua vida, talvez muito mais do que fazendo uma viagem à Lua, É por isso que praticamos o zazen*. A coisa mais importante é ser capaz de apreciar a vida, sem ser enganado pelas coisas."
Shunryu Suzuki
*Zazen é a meditação sentada típica do Zen Budismo.

7.05.2005

haikai III

Apenas respirando
Nada é sagrado
Nada é profano

Goten

6.29.2005

Retrato de Dogen contemplando a Lua

Espírito de frescor e clareza cobre o velho da montanha neste outono.
Um burro olha espantado para o teto celeste; a resplancente lua branca vagueia.
Nada se aproxima. Nada mais se inclui.
Flutuante, deixo-me ir - pleno de mingau, pleno de arroz.
Vivamente agitado da cabeça aos pés,
Céu acima, céu abaixo, eu enevoado, origem da água
Dogen

6.23.2005

Destemor

Verso Cinquenta sobre a natureza da consciência
"Quando compreendemos que as aflições nada mais são que iluminação,
Podemos deslizar em paz nas ondas de nascimento e morte,
Navegando no barco da compaixão, cruzamos o oceano da ilusão,
Com um sorriso, sem medo."

O Jardineiro não corre atrás das flores, nem foge do lixo. Aceita e cuida de ambos. Não tem apego a um e rejeição ao outro, pois vê que a natureza de amboas é a interexistência. Ele fez as pazes com a flor e com o lixo. O bodhisattva lida com as aflições e a iluminação da mesma maneira que o jardineiro habilidoso lida com as flores e o lixo - sem discriminação. Ele sabe como fazer o trabalho de transformação e, por isso, não tem mais medo. Essa é a atitude de um Buda.

(do livro "Transformações na consciência de Thich Nhat Hanh)

6.22.2005

Diário de Zé da Vaca - fragmento

Penso num poema
Que escapa
Entre os dedos
Entre as teclas
Sonoro e estranho
Um poema
Que não se percebe importante
Que não se reconhece como irmão
Que não sabe ser amável
(já que não é máquina)
mas está feliz
solto na folha rabiscada
estranho entre ameixas desenhadas
capturado por linhas monótonas
limitado entre páginas
o poema
que saiu assim sem querer.
Como sempre...

Diário de Viagem - I

Calor sufocante, agosto de 2003 em Belém do Pará.
Troteando nas ruas ensolaradas perseguindo a sombra de enormes mangueiras.
Caminho distraído até o Teatro da Paz onde encontro a Beleza nos bancos da praça,
no piso do coreto,
nos azulejos das fachadas,
no esplendor, na cor do enorme teatro,
nas árvores centenárias esquecidas pelo tempo.
No povo sossegado.
Derretendo de calor prossigo minha jornada
nas ruas ensolaradas da Belém que entrou em meus olhos
sem pedir permissão, sem promessas vãs.
Na feira do Ver-o-Peso entre frituras de peixe e olhares furtivos
meu amigo era confundido com o deputado Babá.
Vi açaí em tigelas com farinha de mandioca,
filés de pirarucu gordos como porcos.
Cerveja Cerpa gelada na confusão de pessoas
Confusão de frutas nas bancas
Sapoti, murici, uxi, abricó, castanha
Ingá de metro, graviola, taperebá,
E nas bancas dos peixes, montanhas de camarão seco, lingüiça de búfalo e rocambole de pirarucu
Dezenas de tipos de farinha de mandioca, amarelas e brancas
E o calor aumentando.
Movimentação de pessoas, um formigueiro humano, uma enorme criatura viva - a feira
alimentada de açaí e peixe frito, maniçoba e tacacá.
Artesanatos no prédio azul, cerâmicas, xícaras e artefatos da floresta.
E logo após as ervas
Vários aromas em garrafadas dependuradas nas bancas
Cura para todos os males
Remédios esquisitos com pedaços de jibóia ou sexo de boto.
Olhares atentos de biopiratas de alta tecnologia e sem coração
Filmando espantados as poções mornas nas garrafas de mil cores
Observando tudo, planejando, consumindo mac donalds disfarçados de bauru tucupi tacacá
Apenas observações - não se espante ainda
Praça dos urubus, parada seguinte
Barcos de pesca encostados e vísceras de peixes espalhadas no sol tropical
Água de tripas piscianas e excrementos aquáticos, urubus sempre comendo e bosteando
peixe seco nas calçadas, vôos rasantes entre os prédios.
Belém que ficou colada na minha retina
Na experiência do bosque Rodrigues Alves
Observando um peixe boi
Ouvindo papagaios
Curtindos as pacas
Fugindo dos lagartos
Observando as araras
Escutando os macacos discutindo solenemente
E formigas assassinas caminhando entre as folhas caídas
(uma delas mordeu meu pé e doeu até a nuca)
Arvores gigantescas, pré-históricas, ancestrais
E a sensação de estufa, muita umidade e o calor derretendo o corpo
Um lago com tambaquis
Chafarizes europeus no meio da selva
Um grupo dança o carimbó
Mulheres de vestido vermelho no sol filtrado pela floresta
Dançarinos girando na poeira do solo amazônico
Os patos fugindo do tucupi
Os camarões indo para o tacacá
Igrejas gigantescas
Belém do pará


6.14.2005

Um dia de chuva para você

goiabas, sete-capotes e os pássaros
um rapidamente pousa
na sacada etérea
onde imagino todas coisas
que posso perceber entre frestas e clarões
não o que sinto mas o que percebo
mais do que a emoção é capaz
mais do que posso entender
entre a chuva e eu
entre eu e todas coisas
que imagino
com corpo-mente
sem sintonizar essas mensagens
continuamente chegando do vazio.


(Extraído dos "Diários de Zé da Vaca" vol.III)

Poemas de Sonic Byrd

Eu sei que você viu
o poeminha do canteiro
acenando febrilmente.
Mas como perceber?
Dia-a-dia
Cartão-ponto
café e pronto
taquicardico e tonto
ziguezagueando

de bobeira esperando uma solução

5.25.2005

Flores para o Buda

"Nós ofertamos belas flores ao Buda, mas essas flores nem sempre crescem em um belo jardim. Elas podem ser cardos apanhados no campo, à beira de uma estrada. Ninguém dá atenção a eles por que são considerados feios. Mas olhe para um cardo. Ele é bonito. Se cuidarmos desse cardo e o colocarmos em um determinado lugar, podemos ver que ele é bonito. Assim, de agora em diante, quando você caminhar por uma rua, dê atenção até mesmo aos cardos como se fossem um Buda. Ainda que você não dê atenção a esse cardo que cresce ao longo da beira da estrada, na verdade esse cardo está ajudando, de muitas maneiras, a sua vida"
Extraído de "Retornando ao Silêncio" de Dainin Katagiri

5.19.2005

sobre como escrever!!!

"percebi que não era nada-menos que nada. Foi então que comecei a escrever. Lançando tudo ao mar, mesmo aqueles que amava. No momento em que ouvi minha própria voz, fiquei encantado: o fato de ser uma voz isolada, distinta, única, me deu alento. Não importava se o que escrevia pudesse ser considerado ruim. Bom e ruim saíram do meu vocabulário. Pulei com os dois pés no reino da estética. Minha vida em si se tornou uma obra de arte. Encontrara uma voz, estava de novo inteiro. Meu enorme fracasso fora a recapitulação da experiência da raça: tinha que me entupir de conhecimento, perceber a futilidade de tudo, destruir tudo, me tornar desesperado, a seguir humilde, e depois me apagar inteiramente, como os iniciados do Zen. Tinha que chegar na borda do abismo e dar um salto no escuro."

Este texto foi escrito por Henry Miller, quem conhece a história dele sabe a dureza que ele enfrentou até conseguir escrever. Então aí está descrito o momento da virada, do estalo que aconteceu para a escrita fluir.

haikai II

Mesmo na chuva
posso entender
estes olhos úmidos

5.16.2005

haikai

tomando cerveja
percebendo o vazio
entrando no copo

5.07.2005

poesia de ikkyu II

Minha vida tem sido devotada ao jogo do amor;
Não me arrependo de estar emaranhado no fio vermelho da cabeça aos pés,
Tampouco tenho vergonha de ter passado meus dias como uma Nuvem Louca.

Uma breve pausa entre
a estrada imperfeita aqui e
o caminho perfeito ali:
Se chover, que chova!
Se for tempestade, que seja tempestuosa!

Obs. O próprio Ikkyu apelidou-se de Nuvem Louca exemplificando seu estilo excêntrico de praticar o zen

poesias de Ikkyu

Dez dias
No mosteiro
Deixaram-me inquieto.
O fio vermelho
Nos meus pés
É longo e não está partido.
Se algum dia você vier
À minha procura,
pergunte por mim na peixaria,
na taverna,
ou no bordel.

Ikkyu San

Ikkyu Sojun foi outro destes mestres autênticos e não convencionais. Viveu entre 1394 e 1481 no Japão. Ele não obedecia as regras rígidas dos mosteiros (principalmente quanto ao sexo, bebida e alimentação) pois acreditava que o zen autêntico e puro não estava ligado a nenhuma prática religiosa ortodoxa. Ele costumava passear pela zona boêmia vestido com sua túnica de sacerdote para demonstrar que não há qualquer contradição entre a prática do zen e o sexo. Ele acreditava que o zen se aplica a todas as coisas sem distinção, em todos os instantes.
Pessoalmente sou um grande admirador da vida destes mestres e de suas lições de liberdade. Mas, com isso, não quero dizer que este seja o caminho de todos. Apenas poucos iluminados podem transitar entre o sagrado e o profano, reconhecendo a dualidade apenas como uma criação de nossa mente.
Para cada pessoa há um caminho. Por favor, tentem com todas as forças, encontrar o seu o mais breve possível, seja ele num mosteiro , numa mesa de bar ou num canteiro de flores e hortaliças.

Quem foi Ryokan Daigu?

O mestre zen Ryokan Daigu viveu no Japão de 1758 a 1831. Ele foi um mestre não convencional, um autêntico outsider, pois não morava em mosteiros nem tinha discípulos. Habitava uma pequena cabana chamada Gogo-an e vivia apenas com um manto e uma tigela sobrevivendo do que ganhava nas suas mendigações diárias. Parecia ser um grande tolo, como o nome Daigu indica, mas foi considerado um dos maiores mestres budistas, um poeta requintado e um dos melhores calígrafos japoneses.
Adorava brincar com as crianças como se fosse uma delas. Também gostava de tomar saquê com os camponeses. Um pouco antes de morrer, sua namorada lhe deu o apelido de "o corvo", o pássaro que simboliza o amor no Japão.

5.06.2005

Poesia de Ryokan II

O número de dias desde que deixei o mundo e
Me confiei aos Céus está até esquecido.
Ontem, sentando calmamente nas montanhas verdes;
Nesta manhã, jogando com as crianças da aldeia.
Meu manto está todo remendado e
Não posso mais lembrar quanto tempo tive a mesma tigela de mendigação.
Em noitem límpidas caminho com meu bastão e canto poemas;
Durante o dia desenrolo minha esteira e dou uma cochilada.
Quem ousa dizer que muitos não podem levar uma tal vida?
Apenas sigam meu exemplo.

5.03.2005

Poesias de Ryokan

Noite de Verão
Tarde da noite, o leve som de alguém pilando arroz.
O orvalho pinga do bambu sobre a pilha de lenha,
E as plantas por todo jardim também estão úmidas.
Sapos coaxam à distância mas parecem estar bem próximos.
Vagalumes alumiam ora baixo, ora alto.
Completamente desperto; o sono está distante.
Amaciando o travesseiro, deixo que meus pensamentos perambulem.

5.01.2005

O Sonho da Borboleta

Acho este texto de Chuangtsé muito ilustrativo sobre a questão das paisagens mentais. Inclusive o Raul Seixas fez uma música chamada Sábio Chinês inspirada neste texto

"Certa vez, eu, Chuang Chou, sonhei que era uma borboleta, a voejar para lá e para cá, borboleta para todos os fins e em todos os sentidos. Tinha consciência apenas de minha felicidade como borboleta, sem saber que era Chou. Logo despertei, e ali me achava, de novo e verdadeiramente eu mesmo. Agora, não sei se eu era então um homem a sonhar que era borboleta, ou se sou agora uma borboleta a sonhar que sou homem. Entre um homem e uma borboleta existe, por força,uma distinção. A transição se chama a transformação das coisas materiais."

4.28.2005

Explicação Inicial

Viajantes passageiros e amigos
As paisagens mentais são estes pensamentos que rolam pela cabeça sem parar dando base para a conduta discriminatória, com preferências e aversões, coisas boas e más, sagrado e profano e por aí vai. Também definem como interpretamos nossas percepções (aquilo que nos chega pelos sentidos) influenciando nosso comportamento e modo de vida. Quando uma questão nos incomoda está associada a um conjunto de imagens mentais, que são produtos da mente, e, portanto, podem ser recriadas e reinventadas. Dessa forma, a mudança da paisagem mental pode ser um antidoto para o sofrimento mental desnecessário.
Numa palestra perguntaram para o Lama Padma Samten como mudar as paisagens mentais. Ele usou um exemplo drástico. "Se você souber que amanhã vai ser o dia da sua morte, isso não mudaria toda sua paisagem mental?"
No budismo nunca podemos esquecer que amanhã pode ser esse dia, que só temos o agora para viver e espalhar a compaixão. Como afirma repetidas vezes mestre Dogen "Hoje aqui, amanhã desaparecidos"