12.26.2011

Ryōkan Daigu é uma das figurinhas mais lendárias e simpáticas do zen japonês; uma espécie de eremita e errante, um tanto avesso à vida sacerdotal, vivendo em sua cabaninha de telhado de palha. Nome de monge bem dado ("grande tolo com um bom coração"): Ryōkan gostava de tomar umas biritinhas com os camponeses da vizinha...nça, ou então sozinho, escrevendo poemas em sua cabana - pelos quais ficou conhecido, mais tarde. Também gostava de brincar com a criançada, e conta-se que muitas vezes esquecia de fazer a sua ronda de esmolas, de tão entretido que estava - e ficava sem comer. Seu professor realmente soube escolher um nome-do-dharma à altura. Estes são os "59 itens que Ryōkan compilou para ter o comportamento à altura de um monge budista, lembrando, como mestre Chao-chou dizia, o budismo não é o que a pessoa prega ou fala, mas o que faz. É notável que a maioria de suas auto-impostas advertências estão ligadas ao ato de falar [....]" "Tomar cuidado para: - não falar demais; - não falar rápido demais; - não falar sem alguém perguntar; - não falar gratuitamente; - não falar com as mãos; - não falar sobre assuntos mundanos; - não retorquir rudemente; - não discutir; - não sorrir condescendentemente às palavras de outros; - não usar expressões chinesas elegantes; - não se vangloriar; - evitar falar diretamente; - não falar com ar de quem sabe tude; - não pular de um tópico para outro; - não usar palavras enfeitadas ou pomposas; - não falar de eventos passados que não podem ser alterados; - não falar como um pedante; - evitar perguntas diretas; - não falar mal dos outros; - não falar grandiloquentemente da iluminação; - não fazer bagunça quando bêbado; - não falar de forma desprezível; - não gritar com crianças; - não tecer histórias fantásticas; - não falar quando zangado; - não deixar subentender nomes importantes; - não ignorar as pessoas a quem você está se dirigindo; - não falar santimonialmente dos deuses ou dos budas; - não usar discurso adocicado; - não usar discurso adulador; - não falar de coisas das quais você não tem conhecimento; - não monopolizar a conversa; - não falar de outros pelas costas deles; - não falar convencidamente; - não denegrir os outros; - não cantar rezas ostensivamente; - não reclamar da quantidade da doação; - não dar sermões muito eloquentes; - não falar afetadamente como um artista; - não falar afetadamente como um mestre do chá; - oferecer incenso e flores para os budas; - plantar árvores e flores, limpar e aguar o jardim; - regularmente usar moxa para as pernas; - evitar peixes oleosos; - selecionar comidas leves e evitar comidas gordurosas; - não dormir demais; - não comer demais; - não dar uma cochilada muito longa à tarde; - não ficar exausto; - não ser negligente; - não falar quando você não tiver nada a dizer; - não esconder nada em seu coração; - sempre beber o saquê quente; - raspar sua cabeça; - aparar as unhas; - escovar os dentes e usar um palito de dentes; - tomar banho; - manter sua voz clara e nítida." "[....] Mestre Ryōkan estava sempre esquecendo as coisas. Um número de cartas a seus amigos sobreviveu, cheia de desenhos de objetos que ele havia esquecido em algum lugar e lhes perguntando se eles haviam visto os objetos em questão. Às vezes ele mendigava na mesma casa, duas vezes no mesmo dia, tendo esquecido sua visita anterior e era repreendido pela dona da casa por ser cobiçoso. Aqui está uma outra lista que ele fez: Coisas para levar com você: chapéu de algodão, toalha, tecido, papel, leque, moedas, bolinhas de gude e bolas de jogar. Necessidades: chapéu de bambu, material para a perna (como uma meia), luvas, cinto, bastão, manto pequeno. Para peregrinações: roupas, capa de chuva de palha, tigela, saco. Lembrete: tenha certeza de ler isto antes de sair ou você vai ficar em apuros!" entre aspas: da revista Flor do Vazio, ano 7 vol. 1, verão de 2003; pg. 72

11.29.2011

Meditação

MEDITAÇÃO


por Dudjom Rinpoche



Uma vez que tudo se origina na mente, sendo esta a causa raiz de toda a experiência, seja "boa" ou "ruim", primeiro é necessário trabalhar com sua própria mente, não deixá-la se perder errantemente . Corte o desnecessário acúmulo de complexidade e fabricações que acolhem confusões na mente. Corte o problema pela raiz, por assim dizer.



Permita-se relaxar e sentir alguma amplitude, deixando apenas a mente ser, tranquilizar-se naturalmente. Seu corpo deveria ficar parado, a fala silenciosa e a respiração como ela é, fluindo livremente. Aqui, há uma sensação de se soltar, desdobrar-se, deixar-se ser.



Com o que este estado de relaxamento se parece? Você deveria ficar como alguém depois de um dia de trabalho muito duro, exausto e pacificamente satisfeito, a mente pronta para descansar. Algo se ajeita ao nível intestinal e sentindo o descanso em seu intestino, você começa a experimentar uma leveza. É como se você estivesse derretendo.



A mente é tão imprevisível - não há limite para a criação fantástica e sutil que surge, ou seus humores e aonde ela vai levar você. Mas você também pode experimentar um estado lamacento e semi-consciente à deriva, como se houvesse uma cobertura sobre sua cabeça - uma espécie de torpor de sonho. Este é um modo de quietude, nomeadamente estagnação, uma cegueira sem mente, turva.



E como você sai desse estado? Alerte-se, endireite as costas, expire o ar viciado para fora de seus pulmões e direcione sua atenção para o espaço claro a fim de trazer frescor. Se você permanecer nesse estado estagnado você não vai evoluir, por isso quando este revés surge, limpe-o de novo e de novo. É importante desenvolver a vigilância, permanecer alerta com sensibilidade.



Assim, a consciência lúcida de meditação é o reconhecimento tanto de imobilidade como de mudança e é a clareza tranquila de pacificamente permanecermos em nossa inteligência básica. Pratique isto, pois só realmente fazendo-o que se experiencia a fruição ou se começa a mudar.



Ver em Ação



Durante a meditação a mente de alguém, estando uniformemente estabelecida em seu próprio modo natural, é como água parada, serena, sem ondulação ou vento; e quando qualquer pensamento ou mudança surge naquela quietude, se forma como uma onda no oceano, desaparecendo nele novamente. Deixada naturalmente, se dissolve, naturalmente. Seja qual for a turbulência da mente que irrompa - se você deixar que assim seja - ela por si própria irá extinguir-se, liberar-se; assim a visão a que se chega através da meditação é que tudo o que aparece não é outra coisa senão a auto exibição ou projeção da mente.



Ao continuar na perspectiva dessa visão nas atividades e eventos da vida cotidiana, a apreensão da percepção dualista do mundo como realidade sólida, fixa e tangível (que é a causa raiz de nossos problemas) começa a afrouxar e se dissolve. A mente é como o vento. Ela vem e vai, e através de certeza crescente nessa visão, começa-se a apreciar o humor da situação. As coisas começam a ser percebidas um pouco como irreais, e o apego e a importância que se dá aos eventos começam a parecer ridículos ou pelo menos mais leves.



Assim desenvolve-se a capacidade de dissolver a percepção, ao continuar o fluxo da consciência de meditação na vida cotidiana, vendo tudo como o jogo auto-manifesto da mente. E imediatamente após a meditação sentada, a continuação dessa consciência é ajudada ao fazer aquilo que você tem que fazer com calma, tranquilamente, com simplicidade e sem agitação



Assim, em um sentido, tudo é como um sonho, ilusório, mas mesmo assim com humor continua-se fazendo as coisas. Se você estiver andando, por exemplo, sem solenidade ou auto-consciência desnecessários, alegremente caminhe em direção ao espaço aberto da verdade tal como ela é. Quando você come seja o reduto da verdade, do que é. Ao comer, alimente as negatividades e ilusões na barriga do vazio, dissolvendo-os no espaço; e quando você estiver urinando considere que todos os seus obscurecimentos e bloqueios estão sendo limpos e lavados.



Até o momento eu contei-lhes a essência da prática resumidamente, mas é preciso perceber que enquanto nós continuamos a ver o mundo de uma maneira dualista, até que estejamos realmente livres do apego e da negatividade e tenhamos dissolvido todas as nossas percepções exteriores na pureza da natureza vazia da mente, ainda estamos presos no mundo relativo de "bom" e "ruim", "ações positivas e negativas"; devemos respeitar essas leis e estar conscientes e responsáveis por nossas ações.



Pós-Meditação



Após a meditação sentada formal continue essa percepção luminosa e ampla nas atividades cotidianas, em tudo, e gradualmente a consciência será reforçada e a confiança interna irá crescer.



Levante-se com calma da meditação, não pule imediatamente ou com pressa, mas seja qual for sua atividade, preserve um leve sentimento de dignidade e equilíbrio e faça o que você precisar fazer com tranquilidade e relaxamento de mente e corpo. Mantenha a sua consciência centrada luminosamente e não permita que sua atenção se distraia. Continue esse encontro do fio da atenção plena e consciência, apenas siga o fluxo.



Ao caminhar, sentar, comer ou dormir, tenha um sentido de tranqüilidade e presença de espírito. Em relação a outras pessoas seja honesto, gentil e simples; geralmente seja agradável em seus modos e não se deixe arrastar por conversas e fofocas.



O que quer que você faça, de fato, faça de acordo com o Darma, que é a maneira de aquietar a mente e subjugar negatividades.

11.26.2011

father Death Blues

Father Death Blues


Hey Father Death, I'm flying home

Hey poor man, you're all alone

Hey old daddy, I know where I'm going



Father Death, Don't cry any more

Mama's there, underneath the floor

Brother Death, please mind the store



Old Aunty Death Don't hide your bones

Old Uncle Death I hear your groans

O Sister Death how sweet your moans



O Children Deaths go breathe your breaths

Sobbing breasts'll ease your Deaths

Pain is gone, tears take the rest



Genius Death your art is done

Lover Death your body's gone

Father Death I'm coming home



Guru Death your words are true

Teacher Death I do thank you

For inspiring me to sing this Blues



Buddha Death, I wake with you

Dharma Death, your mind is new

Sangha Death, we'll work it through



Suffering is what was born

Ignorance made me forlorn

Tearful truths I cannot scorn



Father Breath once more farewell

Birth you gave was no thing ill

My heart is still, as time will tell.





Allen Ginsberg

A você que está reclamando todo o tempo de não ter nenhum tempo”

A você que está reclamando todo o tempo de não ter nenhum tempo”


Por Sawaki Kôdô Rôshi



As pessoas se mantém ocupados só para evitar o tédio.



Todo mundo reclama que estão tão ocupados que não tem tempo nenhum. Mas porque eles estão tão ocupados? São apenas suas ilusões que os mantém ocupados. Uma pessoa que pratica zazen (meditação) tem tempo. Quando você pratica zazen, você tem mais tempo que todos do mundo.



Se você não for cuidadoso, você começará a fazer um grande escarcéu só para alimentar você mesmo. Você está constantemente com pressa, mas por que? Só para alimentar você mesmo. As galinhas também estão com pressa quando chegam às suas comidas. Mas por que? Apenas para ser comidas por humanos.



Quantas ilusões uma pessoa cria em sua vida? É impossível calcular. Dia vai, dia vem, “Eu quero isso, eu quero aquilo…” Uma simples volta no parque é acompanhada por 50 mil, 100 mil ilusões. Então é isso que significa estar “ocupado”. “Quero estar com você, quero chegar em casa, quero ver você…”



As pessoas estão constantemente sem ar – de correr tão rapidamente atrás de suas ilusões.



Você quer alcançar o nirvana para estar liberado da sua vida atual? Esta é a exatamente a atitude que é chamada de “transmigração”.



O desenvolvimento do transporte tornou o mundo menor. Agora corremos em carros, mas pra onde afinal? Para a corrida! Pisamos no acelerador, só pra matar tempo”.

10.06.2011

em homenagem a Steve Jobs

"Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encon...trei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo - expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar - caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração.




Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração." Steve Jobs

9.14.2011

Kodo Sawaki

“Antes que eu penetrasse no Zen,

as montanhas nada mais eram senão montanhas

e os rios nada a não ser rios.

Quando aderi ao Zen,

as montanhas não eram mais montanhas

nem os rios eram rios.

Mas, quando compreendi o Zen,

as montanhas eram só montanhas

e os rios, só rios”



(Sentença Zen)







O grande mestre espiritual, Thomas Merton (1915-1968), dizia que o Zen é “uma das mais misteriosas de todas as espiritualidades”. Mais que uma filosofia ou religião, o Zen é uma “trama existencial”, uma disposição particular, de fundo, com respeito à vida e ao tempo. Trata-se de um modo peculiar de proceder, eminentemente prático, que envolve uma atenção singular ao real, à vida, em toda a sua tessitura concreta e existencial, e a todo instante. Está profundamente vinculado às atividades do dia a dia, descortinando uma “percepção plena do dinamismo e da espontaneidade da vida”.



São muitos os místicos e mestres Zen que animaram a nossa trajetória civilizacional, apontando rumos diferenciados que envolvem delicadeza, cuidado e generosidade. Um dos importantes nomes dessa tradição espiritual foi Kodo Sawaki (1880-1965), conhecido como um “mosteiro itinerante”. Viveu a experiência da impermanência (mujo) desde cedo, tendo perdido os pais em tenra idade. Veio adotado por Sawaki, um irmão de sua mãe, daí a derivação de seu nome, que veio depois acrescentado de Kodo, adquirido por ocasião de sua ordenação como monge. Um nome bem apropriado para o pequeno mestre. Kodo significa “sem casa”. De fato, essa condição de “impermanência” o acompanhou durante toda a sua vida. Afirmava não necessitar de casa, templo, títulos ou mulheres. Nem mesmo de iluminação (satori). A itinerância era a sua morada. Foi um mestre singular, que acolhia, indistintamente, a todos que o procuravam, e tinha o dom da palavra. Ele dizia: “Falo sempre com força e com todo o coração. Em cada palavra ou frase a minha mente e o meu corpo, a minha carne e o meu sangue revelam-se completamente”.



Sua grande inspiração veio de Eihei Dôgen (1200-1253), fundador do Soto Zen no Japão. Para Dôgen, a prática do Zazen (meditação sentada) era a porta da real compreensão do caminho espiritual (Dharma). Dizia a seus discípulos: “Muitos imaginam que é a multiplicação das imagens do Buda ou a elevação de templos que favorecem a expansão do Caminho. Trata-se de um grave erro. Uma choupana ou a sombra de uma árvore são suficientes para a prática do Zazen”. Visando orientar seus discípulos, escreveu entre os anos 1231 e 1253, uma das mais célebres obras de espiritualidade, o shôbôgenzô (o tesouro da visão do verdadeiro dharma). O horizonte almejado era o Dharma de Buda, que se revela em todas as coisas. Escrevia a respeito Dôgen: “Na grande via do Dharma de Buda, um só grãozinho de pó contém todos os sutras do universo”. Esse foi o mestre que pontuou toda a trajetória de Kodo Sawaki. E os mestres são fundamentais para o exercício de realização do Dharma, como o próprio Dôgen reconhecia: “Se não encontras um verdadeiro mestre, é melhor não estudar com efeito o budismo”. É o mestre que favorece a escuta do verdadeiro Dharma.



Na trilha aberta por Dôgen, Kodo Sawaki segue o seu caminho, marcado por um significativo lema: viver a vida cotidiana. Trata-se de um lema recorrente no budismo Zen. Outro dos grandes mestres desta tradição budista, Lin Chi, que morreu no ano de 867, dizia num de seus discursos que não há nada de extraordinário a ser cumprido no budismo, senão viver simplesmente a vida. Em mesma linha de sintonia, dirá o conhecido mestre Daisetz Teitaro Suzuki, um dos introdutores do Zen no Ocidente: “O Zen é viver, o Zen é a vida e viver é Zen”. Num dos ditos clássicos da tradição Zen, de autoria de Wou-men (Wou-men-kouan – Passe sans porte), afirma-se que “o coração cotidiano é o Caminho”. É o rastro que seguiu Sawaki em sua existência e prática, levar a vida com consciência e atenção. Mediante a prática contínua do Zazen, desvendar a maravilha do cotidiano, vivido com gratuidade (mushotoku) e respeito. Para ele, a razão da vida não estava em acumular conhecimentos, mas na atenção diuturna e cuidadosa diante do mistério apresentado a cada momento ao olhar humano. Dizia: “Os homens multiplicam conhecimentos, mas penso que o fim almejado está em poder sentir o som dos vales e olhar as cores da montanha”.



Na tradição budista, todo o acento recai na realidade fenomênica. A reverência feita a uma camélia em flor tem a mesma densidade espiritual que outros atos religiosos como a inclinação feita aos budas. Como mostrou acertadamente, Toshihiko Izutsu, em sua reflexão sobre a filosofia do zen budismo, “o mundo fenomênico não é só a ordem das coisas sensíveis que aparece ao ego empírico ordinário, mas na consciência zen ele vem dotado de uma espécie particular de poder dinâmico que poderia ser adequadamente indicado com o verbo VER”. Desvela-se um olhar que descortina uma dimensão excepcionalmente elevada, para além da atividade discriminante traduzida pelo intelecto relativo do ser humano encerrado na limitada esfera da experiência comum e ordinária. As montanhas manifestam-se como montanhas e os rios como rios.



A verdade está aí, no alcance da visão. Basta saber ver. Ela está em todo canto e em cada coisa. Essa era uma máxima seguida com rigor por Sawaki. A prática do Zazen facultava a educação desse olhar, capaz de captar a profunda unidade que liga o ser humano a todo o universo e a todo o criado. No Zazen deixa-se abandonar o corpo e a mente (shin jin datsu raku), facultando-se o “fluir com a infinita luminosidade” que a todos sustenta. É o caminho que faculta o acesso à subjetividade elemental, à pura subjetividade, para além das dicotomias entre sujeito e objeto. Este deixar cair corpo e mente, na prática do “só-Zazen”, não significa um abandono ou exclusão da existência histórica e social. Esse é um equívoco que deve ser extirpado. Na verdade, o Zazen verdadeiro situa o ser humano ainda mais fundo no seu cotidiano, colocando em ação um modo singular de ser no mundo, facultando a “encarnação auto-criativa e auto-expressiva da natureza-de-Buda”. A consciência de “impermanência” não leva de forma alguma a uma perspectiva de fatalismo ou pessimismo diante da vida, mas a uma “vitalidade sempre maior na busca do Caminho”.



O horizonte apontado por Kodo Sawaki é o mesmo indicado por Dôgen em seu shôbôgenzô: o abandono de si e a doação aos outros. Há que romper todos os apegos e viver a profunda dinâmica da gratuidade, sem finalidade ou escopo (mushotoku). E estar sempre a caminho, sem morada fixa, com o olhar aberto e atento ao mundo da alteridade. Num dos fascículos de seu clássico trabalho, Dôgen asseverava: “Compreender o Caminho de Buda é compreender a si mesmo (jiko); compreender a si mesmo é esquecer a si mesmo; esquecer a si mesmo é deixar-se abrigar por todas as coisas (banpô ni shô seraruru) (...)”. Em profunda sintonia com a perspectiva kenótica proposta por Dôgen, Kodo Sawaki reconheceu de forma profunda como o reconhecimento da impermanência de todas as coisas gera gratuidade e doação. Como sublinhou Gianpetro Fazion, em bela obra sobre o Zen de Kodo Sawaki (Roma, 2003), a “ampla visão da impermanência e do sofrimento universal (duhkha), profundamente penetrada pelo olhar de Buda, favoreceu-lhe (a Sawaki) a capacidade de partilhar uma compaixão amorosa por todas as formas de vida”. Num dos ditos de Sawaki, ele sublinha: “Se alguém abandona o próprio ego, sem pensar em si mesmo, se ele serve, e se devota aos outros, ainda que através de pequenas coisas, como cozinhar na manhã, isto é verdadeiramente grande”. A nobreza verdadeira está justamente nesses pequenos detalhes do cuidado, da delicadeza e do serviço aos outros.



Kodo Sawaki foi um grande mestre Zen, mesmo sem a cobertura de uma formação acadêmica tradicional. Tinha apenas o diploma da escola elementar. Sua linguagem era simples, forte e direta, nutrida pela permanente prática do Zazen. Muitos passaram por sua escola, entre os quais Taisen Deshimaru, que introduziu o Zen na França, no final dos anos 1960. De seus traços espirituais, brilha de forma especial a dinâmica da gratuidade absoluta. Seus ditos guardam uma sabedoria exemplar, como o que segue: “A vida é complicada. Há momentos, como na guerra, onde o fogo cai do céu, e outros onde podemos adormecer, aconchegados, junto à lareira. Há períodos nos quais necessitamos trabalhar mesmo de noite, e outros em que se pode beber o sakê. Buscar realizar essa vida, mediante o ensinamento de Buda, isto é o budismo”.



Ao final da vida, já aos 85 anos, voltou seu olhar para o monte Tagakamine. Esse monte tinha sido objeto de suas observações durante muito tempo, mas agora seu olhar voltava-se para ele com particular intensidade. Ele agora o Via, e parecia indicar a presença do empíreo. Três dias antes de sua morte, no mês de dezembro de 1965, pediu que abrissem a janela de sua cela e disse: “Olha a montanha. A natureza é grande, enquanto os homens ocupam-se de pequenas coisas: em toda a minha vida não encontrei um modo de admirá-la completamente. Mas aquela Tagakamine me observa, do alto de sua grandeza, e parece dizer: ´Kodo, Kodo!`”.

9.13.2011

“Essentials of Spontaneous Prose” (1958)

“Essentials of Spontaneous Prose” (1958)


SET-UP The object is set before the mind, either in reality, as in sketching (before a landscape or teacup or old face) or is set in the memory wherein it becomes the sketching from memory of a definite image-object.

PROCEDURE Time being of the essence in the purity of speech, sketching language is

undisturbed flow from the mind of personal secret idea-words, blowing (as per jazz musician) on

subject of image.

METHOD No periods separating sentence-structures already arbitrarily riddled by false

colons and timid usually needless commas but the vigorous space dash separating rhetorical

breathing (as jazz musician drawing breath between outblown phrases) “measured pauses which

are the essentials of our speech” “divisions of the sounds we hear” “time and how to note it

down.” (William Carlos Williams)

SCOPING Not “selectivity” of expression but following free deviation (association) of

mind into limitless blow-on-subject seas of thought, swimming in sea of English with no discipline

other than rhythms of rhetorical exhalation and expostulated statement, like a fist coming down

on a table with each complete utterance, bang! (the space dash)Blow as deep as you

wantwrite as deeply, fish as far down as you want, satisfy yourself first, then reader cannot fail

to receive telepathic shock and meaning-excitement by same laws operating in his own human

mind.

LAG IN PROCEDURE No pause to think of proper word but the infantile pileup of

scatological buildup words till satisfaction is gained, which will turn out to be a great appending

rhythm to a thought and be in accordance with Great Law of timing.

TIMING Nothing is muddy that runs in time and to laws of time Shakespearian stress of

dramatic need to speak now in own unalterable way or forever hold tongue no revisions (except

obvious rational mistakes, such as names or calculated insertions in act of not writing but

inserting).

CENTER OF INTEREST Begin not from preconceived idea of what to say about image

but from jewel center of interest in subject of image at moment of writing, and write outwards

swimming in sea of language to peripheral release and exhaustion Do not afterthink except for

poetic or P. S. reasons. Never afterthink to “improve” or defray impressions, as. the best writing

is always the most painful personal wrungout tossed from cradle warm protective mind tap from

yourself the song of yourself, blow! now! your way is your only way “good” or

“bad always honest, (“ludicrous”), spontaneous, “confessional” interesting, because not

“crafted.” Craft is craft.

STRUCTURE OF WORK Modern bizarre structures (science fiction, etc.) arise from

language being dead, “different” themes give illusion of “new” life. Follow roughly outlines in

outfanning movement over subject, as river rock, so mindflow over jewel-center need (run your

mind over it, once) arriving at pivot, where what was dim-formed “beginning” becomes sharp—

necessitating “ending” and language shortens in race to wire of time-race of work, following laws

of Deep Form, to conclusion, last words, last trickle Night is The End.

MENTAL STATE If possible write “without consciousness” in semitrance (as Yeats’ later

“trance writing”) allowing subconscious to admit in own uninhibited interesting necessary and so

“modern” language what conscious art would censor, and write excitedly, swiftly, with writing-or-

typing-cramps, in accordance (as from center to periphery) with laws of orgasm, Reich’s

“beclouding of consciousness.” Come from within, out to relaxed and said.

Jack Kerouac, “Essentials of Spontaneous Prose” in Ann Charters, ed., The Portable Beat Reader (New York: Viking, 1992).





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8.29.2011

Gary Snyder


Passar um tempo com sua própria mente é algo humilde e expansivo. Descobrimos que não há ninguém no comando, e somoslembrados de que nenhum pensamento dura muito. As marcas dos ensinamentos budistas são a impermanência, a ausência de ego, a inevitabilidade do sofrimento, a interconexão, a vacuidade, a vastidão da mente e a oferta de um Caminho para a realização. Um poema acabado, como uma vida exemplar, é uma breve apresentação, algo único na singularidade, uma expressão completa, e um tipo de troca de presentes nas redes da mente-energia. Na peça no Basho (Bananeira), diz-se que “toda poesia e toda arte são oferendas para o Buda”. Essas várias ideias budistas, em conjunto com o antigo sentido chinês de poesia, são parte da trama que produziu uma simplicidade elegante, a que damos o nome de estética zen.
Tu Fu disse: “As ideias de um poeta deveriam ser nobres e simples”. Nos círculos Ch’an se dizia: “Pessoas incultas deliciam-se no estardalhaço e na novidade. Pessoas cultas deliciam-se no comum”. Essa simplicidade, essa realidade comum, é o que os budistas chamam de quididade, ou tathata. Não há nada especial na realidade, porque ela está toda exatamente aqui. Não é preciso chamar atenção para ela, apresentá-la vividament e exibi-la. Portanto, o tema derradeiro de uma poesia budista “mística” é profundamente comum. Essa elusiva realidade comum que é tão tocante e refrescante, toda revolvida em imaginação e linguagem, é o trabalho de todas as artes. (Os poemas realmente belos são talvez os invisíveis, que não exibem nenhum insight especial, nenhum beleza notável. Mas em verdade ninguém nunca escreveu um grande poema que perfeitamente não tivesse nenhum insight, nenhum desdobramento instrutivo, nenhum prazer sintático — este é apenas um ideal distante.)
Assim, nunca haverá um único tipo identificável de “poesia meditativa”. Apesar do elegante e algo decadente ideal da Simplicidade Zen, o estardalhaço, a novidade e a vulgaridade entusiasmada também são completamente reais. Olhos arregalados, línguas para fora, entradas arrebatadoras, palmas e uivos — todos fazem parte da tradição da prática. E nunca haverá — é o que devotamente se espera — um estilo final e exclusivo de budismo. Continuo buscando poemas que veem o momento, que brincam livremente com o que é dado,
Teasing the demonic
Wrestling the wrathful
Laughing with the lustful
Seducing the shy
Wiping dirty noses and sewing torn shirts
Sending philosophers home to their wives in time for dinner
Dousing bureaucrats in rivers
Taking mothers mountain climbing
Eating the ordinary

[Fazendo graça com o demoníaco
Lutando com o irado
Gargalhando com o sensual
Seduzindo o tímido
Limpando o nariz sujo e costurando camisas rasgadas
Mandando filósofos para casa com suas mulheres a tempo para o jantar
Afogando burocratas nos rios
Levando mães para escalar montanhas
Comendo o comum]
apreciando que tanto possa ser feito neste precioso planeta do samsara.
Texto adaptado da introdução a Beneath a Single Moon: Legacies of Buddhism in Contemporary American Poetry. © Gary Snyder. Leia o texto completo em D/A Magazine

8.26.2011

Identidade persistente

Essa ideia de uma identidade persistente fez você vagar impotente pelos reinos inferiores do samsara por incontáveis vidas passadas. É exatamente isso que agora impede que você e os outros se libertem da existência condicionada. Se pudesse simplesmente largar esse pensamento sobre o “eu”, você descobriria que é fácil ser livre e libertar os outros também.




Se superar a crença em um eu verdadeiramente existindo hoje, você se iluminará hoje. Se superar isso amanhã, se iluminará amanhã. Mas se nunca superar isso, nunca ganhará a iluminação.



Este “eu” é apenas um pensamento, uma sensação. Um pensamento não possui inerentemente nenhuma solidez, forma ou cor. Por exemplo, quando um sentimento forte de raiva surge na mente, com tal força que você quer brigar e destruir alguém, o pensamento raivoso está empunhando alguma arma? Ele poderia liderar um exército? Poderia queimar alguém como o fogo, esmagar como se fosse uma pedra ou levar embora como um rio?



Não. A raiva, como qualquer outro pensamento ou sentimento, não tem existência verdadeira. Não pode nem ser definitivamente localizada em qualquer lugar do corpo, fala ou mente. É como vento no espaço vazio. Em vez de permitir que tais pensamentos selvagens determinem o que você faz, olhe para a vacuidade essencial deles.



Por exemplo, você pode se encontrar repentinamente cara a cara com alguém que você imagina querer te ferir, e surge uma forte sensação de medo. Mas assim que você se dá conta de que a pessoa, na verdade, tem apenas boas intenções em relação a você, seu medo desaparece. Foi apenas um pensamento.



Dilgo Khyentse Rimpoche

7.07.2011

Desenvolvimento da mente de iluminação

A questão então é: “Como cultivamos e desenvolvemos essa bodhicitta, a mente da iluminação?”. A chave e a raiz são a grande compaixão. Compaixão aqui se refere a um estado mental que torna completamente insuportável para nós ver o sofrimento de outros seres sencientes.




A maneira de desenvolver isso se dá através da compreensão sobre como nos sentimos com nosso próprio sofrimento. Quando nos tornamos conscientes de nosso próprio sofrimento, temos um desejo espontâneo de nos ver livres dele. Se formos capazes de estender esse sentimento a todos os outros seres — através da compreensão do desejo instintivo comum que todos temos de evitar e superar o sofrimento — então esse estado mental é chamado de “grande compaixão”.



Todos nós temos o potencial de desenvolver esse tipo de compaixão, porque sempre que vemos pessoas sofrendo, especialmente aquelas próximas a nós, imediatamente sentimos empatia por elas, e testemunhamos uma reação espontânea dentro de nossas mentes. Então tudo que temos a fazer é trazer esse potencial para fora, e depois desenvolvê-lo ao ponto em que se torne tão imparcial que possa incluir todos os seres sencientes em seu abraço, tanto faz se são amigos ou inimigos.



Para cultivar essa grande compaixão dentro de nós mesmos, primeiro precisamos desenvolver o que é chamado de bondade amorosa, um sentimento de ligação ou proximidade com todas as criaturas. Essa proximidade e intimidade não deve ser confundida com o tipo de sentimento que normalmente temos em relação às nossas pessoas amadas, que é manchado por apego [...], ego e egoísmo. Ao contrário disso, estamos procurando desenvolver um sentimento de proximidade e afeição em relação a outros seres sencientes, ao refletirmos sobre o fato de que o sofrimento é inerente em sua própria natureza, sobre a impotência da situação deles, e sobre o desejo instintivo que todos eles têm de superar o sofrimento.



Quanto maior a força de nossa bondade amorosa em relação aos outros seres, maior a força de nossa compaixão. E quanto maior a força de nossa compaixão, mais fácil será para nós desenvolver um senso de responsabilidade e tomarmos para nós a tarefa de trabalhar pelos outros. Quanto maior esse senso de responsabilidade, mais sucesso teremos em desenvolver bodhicitta, a aspiração altruísta genuína para alcançar a iluminação para o benefício de todos.



XIV Dalai Lama (Tibete, 6 de julho de 1935 ~ hoje)

“Dzogchen: The Heart Essence of the Great Perfection”

(Dharma Quote of The Week – Snow Lion, 22/10/2010)

6.28.2011

haikai de inverno

vento lá fora
percebo memórias do sol
nas chamas da lareira.

6.17.2011

Aspirações

“At all times, again and again, we should make vast prayers for the sake of all beings.


When falling asleep, we should think, “May all beings achieve the absolute state”;

when waking up, “May all beings obtain the body of the Buddha”;

when putting on clothes, “May all beings have modesty and a sense of shame”;

when lighting a fire, “May all beings burn the wood of disturbing emotions”;

when eating, “May all beings eat the food of concentration”;

when opening a door, “May all beings open the door to the city of liberation”;

when going outside, “May I set out on the path to free all beings”;

when walking uphill, “May I go to free beings from the lower realms”;

when seeing happiness, “May all beings achieve the happiness of Buddhahood”

when seeing suffering, “May the suffering of all beings be pacified.”



—Khyentse Rinpoche

6.03.2011

Motivação Pura

Às vezes, muitas pessoas pensam que não estão prontas para uma prática espiritual. Isso é um erro. Para nos engajarmos em uma prática espiritual, não precisamos fazer nada de tão espiritual, de tão diferente.




O que nós basicamente buscamos com a prática espiritual é melhorar as nossas experiências e, principalmente, buscar alívio para as nossas dificuldades. Como seres humanos, passamos por quatro grandes sofrimentos.



O primeiro é o sofrimento do nascimento. Apesar de nós não lembrarmos, o momento do nascimento é um momento de grande sofrimento, tanto para a mãe como para a criança. Depois nós crescemos, nos tornamos adultos, envelhecemos ― e sofremos com as dificuldades da velhice ― (segundo grande sofrimento), sofremos com as dificuldades que as doenças trazem (terceiro grande sofrimento) e depois nós passamos pelo sofrimento da morte (quarto grande sofrimento). E é certo que, se nós nascemos, nós iremos morrer. Não sabemos o dia da nossa morte, nem qual será a causa dela, mas é certo que ela vai chegar.



Mas nós podemos transformar isso: podemos ter uma vida longa, nós podemos ter saúde, podemos ter uma vida melhor, podemos fazer com que a nossa vida futura possa ser melhor. E essa mudança nós só conseguimos fazer com a prática espiritual.



Você não precisa, para se engajar em uma prática espiritual, ir para um lugar especial, mudar a sua roupa, abandonar a sua vida. Não há nada de novo que precisemos fazer. Prática espiritual significa simplesmente mudar a nossa própria mente, significa interromper pensamentos negativos; significa ter pensamentos bons, pensamentos solícitos; significa usar a mente, a fala e o corpo para criar felicidade para o outro.



Se, por exemplo, não temos a capacidade de beneficiar todos os seres no momento, temos, porém, a capacidade de beneficiar aquelas pessoas à nossa volta ― aquelas pessoas próximas de nós, as pessoas da nossa família, os nossos amigos, as pessoas com as quais nos encontramos, com quem trabalhamos, etc.



Todos nós buscamos por felicidade. Por exemplo, podemos falar de uma maneira que vá ajudar o outro, que trará felicidade para o outro. Podemos agir de maneira a trazer felicidade para o outro. Tranformar a vida significa reduzir os pensamentos negativos, incrementar os nossos pensamentos positivos, e nós podemos fazer isso na relação com marido, esposa, filhos, pais e animais.



O simples fato de tirarmos uma formiga do chão e colocá-la em um lugar seguro é uma forma de ajuda, é uma ação positiva. A formiga é um inseto, um ser muito pequenininho, que, quando alguém caminha perto dela, sai correndo, tenta se salvar de ser esmagada, porque sabe que vai sofrer com isso. Caso não, não haveria sentido em querer sair correndo. Dar o que comer a um cachorro ou a um pássaro com fome, tirando, por exemplo, uma porção do nosso próprio alimento, é prática espiritual, caminho espiritual. Isso tudo são bons pensamentos, boas ações, e nós podemos fazer isso o tempo todo.



Não ganhamos absolutamente nada quando magoamos outra pessoa, por exemplo, alguém da nossa família, através de uma fala rude. Se falamos de uma maneira ríspida, magoamos uma outra pessoa, e não ganhamos nada com isso. Simplesmente vamos só conseguir magoar o outro e começar uma discussão.



Nós podemos ver, conseguimos ver esse lado negativo, conseguimos ver quando temos pensamentos negativos. E podemos transformar esses pensamentos, interrompê-los antes que eles se manifestem na fala, nas ações.



Nós possuímos qualidades como compaixão, paciência, e podemos incrementá-las e manifestá-las. Isso é a prática espiritual. É fazendo isso que conseguimos tranformar a nossa vida e torná-la melhor e que conseguimos beneficiar as pessoas à nossa volta. Se nós agirmos dessa maneira, nós trazemos uma boa energia para a nossa família, nós tornamos a nossa vida familiar melhor.



O propósito da prática espiritual é reconhecer o nosso lado negativo e as nossas qualidades, é reduzir o lado negativo e incrementar e trazer à tona as nossas qualidadades. É dessa maneira que nós conseguimos purificar todo o nosso carma negativo. E quanto mais diligente nós formos, é possível progredir na prática espiritual, passo a passo, até que cheguemos à realização de reconhecer e revelar nossa natureza absoluta. Os grandes fundadores das religiões nos deixaram métodos para isso.



Buda, por exemplo, nos deixou métodos. E se nós seguirmos esses métodos, estamos tomando uma direção positiva. Quanto mais diligente formos, mais rapidamente nossas qualidades se manifestam, mais rapidamente nós conseguimos purificar os nossos obscurecimentos. Dessa forma, mais rapidamente conseguimos ter melhores experiências. Quando conseguimos manifestar nossas qualidades constantemente, nos tornamos fonte de beneficio para todos aqueles que nos virem, nos tocarem e se lembrarem de nós, porque eles sentem essa energia positiva a sua volta. É dessa maneira que mudamos a direção da nossa mente.



Samsara e nirvana, céu e inferno não estão muito longe um do outro. Não é necessário uma grande mudança para você sair do inferno e ir para o céu, e vice-versa, para sair do samsara e ir para o nirvana. É simplesmente uma questão de onde estamos focando a mente, de qual direção tomamos.



Em uma história do zen budismo, um samurai chegou diante de um mestre zen e perguntou ao mestre: “Onde está o céu e onde está o inferno? O que é o céu e o que é o inferno?”. O mestre zen ouviu a pergunta, mas não respondeu. Ele continuou meditando, ele continuou focado, e o samurai perguntou novamente. O mestre zen não respondeu. E o samurai perguntou novamente… Em um dado momento, o samurai ficou com raiva porque ele não obtinha resposta do mestre e desembainhou a espada para matar o mestre zen.



Nesse momento, o mestre zen olhou para ele e falou: “Isso é o inferno”. Então o samurai tomou conta da raiva dele, da mente dele, e se acalmou, colocou a espada de volta, se curvou para o mestre zen para se desculpar, e o mestre zen falou para ele: “Isso é o céu, isso é o paraíso”. Isso nos mostra que o céu e o inferno não estão muito distantes. Em essência, céu e inferno significa simplesmente onde estamos com a mente focada, que direção damos à mente.



No caminho espiritual, tudo depende da nossa “fome”. Quando estamos com muita fome, comemos muito para satisfazê-la. Da mesma maneira, o progresso no caminho espiritual depende da nossa diligência, depende da nossa fome. Quanto mais diligentes formos, quanto mais focarmos a mente de maneira postiva, mais rapidamente progrediremos.



É comum nós culparmos os outros pelo nosso sofrimento. Pensamos, por exemplo: “Ah, casei, mas descobri que esse homem é muito ruim, por isso eu sofro tanto!” ou “Ah, casei e depois descobri que essa mulher é muito ruim, e por isso eu sofro tanto…”. Mas, na verdade, a causa do nosso sofrimento e das nossas dificuldades não são os outros, e sim, o nosso próprio carma, o carma que nós acumulamos pensamentos e ações.



Se temos uma vida muito boa, se somos ricos, isso não se dá porque somos inteligentes ou espertos, ou porque enganamos e roubamos os outros. Esse tipo de vida é fruto de bons pensamentos e boas ações, é fruto do nosso carma positivo.



A experiência de felicidade e a experiencia de tristeza não são permanentes, elas podem mudar a qualquer momento. Toda a experiência tem uma natureza impermanente. Se agora está tudo bem, isso pode mudar a qualquer momento. Se estamos passando por um momento de grande dificuldade, esse momento também pode mudar. A mente e os pensamentos mudam o tempo todo, por isso as experiências mudam o tempo todo.



Se estamos sofrendo muito, não precisamos ficar lamentando, batendo a cabeça na parede, deixando-nos dominar pelas emoções, pelas emoções que surgem com as dificuldades. Porque quanto mais nos focarmos no sofrimento, quanto mais nos focarmos nas dificuldades, mais eles se multiplicam. Agindo assim, damos poder a essas dificuldades. Mas se paramos para pensar e reconhecemos que aquele sofrimento é fruto de carma negativo, podemos então buscar um método para purificar o carma e transformar essa experiência. Isso é possível não somente no budismo, mas em todas as tradições religiosas.



Há uma história de um grande erudito e praticante do budismo, chamado Asanga. Ele fez retiro por 12 anos e, no retiro, fazia prática do Buda Maitreia. Por 12 anos ele não obteve nenhum sinal dessa prática. Então resolveu sair do retiro depois desse período porque ele não conseguia ter nenhum sinal bom de realização da prática.



Quando estava deixando o retiro, caminhando, ele viu um cachorro muito doente se arrastando, com a metade do corpo cheio de ferida. Asanga chegou perto para tentar ajudar, e o cachorro estava sofrendo tanto que, quando Asanga chegou perto, o cachorro começou a rosnar para ele.



Ao ver aquilo, Asanga pensou: “Como está sofrendo esse cachorro!”. Ele teve compaixão e quis ajudar aquele animal. Viu que o animal estava cheio de feridas, e que dentro das feridas, estava cheio de larvas. Asanga pensou em limpar aquelas feridas, mas pensou: “Se limpo as feridas com a minha mão, vou matar aquelas larvas. Vou ajudar o cachorro mas vou matar outros seres”. Então ele pensou que, se ele limpasse aquelas feridas com a língua, se ele a lambesse, ele conseguiria ajudar o cachorro e não mataria aquelas larvas. Mas só de pensar em fazer aquilo ele sentia aversão porque lamber uma ferida…



Ele pensou em fechar o olho, porque se ele fechasse o olho, se não visse o que estava fazendo, seria mais fácil. De olhos fechados, ele se abaixou em direção ao cachorro. Mas quando se abaixou, a língua dele tocou o chão. E ele abriu os olhos e o cachorro não estava mais ali.



Quando olhou para cima, Buda Maitréia estava na frente dele. Então olhou para o Buda Maitréia e falou: “Fiquei rezando a você, fazendo prática com você por doze anos. E você nunca surgiu para mim, você nunca me deu nenhum sinal!”. E Buda Maitreia disse: “Mas eu estive com você durante todos esses doze anos da sua prática. E ele começou a lembrar à Asanga:



“Lembra, nos primeiros anos, você fez retiro e, ao sair, viu um homem que estava polindo uma rocha com um pedaço de seda? Você perguntou para ele o que ele estava fazendo, e ele falou que estava tentando fazer uma agulha daquela rocha, polindo ela com a seda. E você não teve compaixão por aquele homem.”



“E depois, na segunda vez que saiu do retiro, Asanga, você viu um homem tentando destruir, desmanchar uma montanha com uma pena. Você perguntou para aquele homem o que ele estava fazendo. E o homem respondeu: ‘Porque esta montanha está criando sombra para a minha casa, eu quero removê-la para que eu tenha sol’. E você não sentiu compaixão por aquele homem”.



“Mas aquelas pessoas eram eu tentando fazer você ter compaixão. Isso eram sinais do seu retiro, mas você não reconheceu por causa dos seus obscurecimentos mentais. Quando, agora, vendo esse cachorro, você conseguiu ter compaixão, você conseguiu me ver, por causa da sua compaixão. A sua compaixão purificou os seus obscurecimentos”.



Portanto, prática espiritual não significa grandes coisas. Por exemplo, um momento de compaixão é suficiente para purificarmos obscurecimentos mentais. Portanto, não importa onde você está sentado, não importa onde você esteja, não importa o que você esteja fazendo, o mais importante é prática espiritual, é você procurar sempre ter bons pensamentos, sempre procurar produzir pensamentos positivos, trazer à tona essas qualidades que nós todos temos, como a compaixão, a paciência entre outras.

http://windhorse.chagdud.org/2011/03/motivacao-pura/

[Traduzido por Lama Sherab Drolma]

As quatro leis da India

Não sei se realmente são leis da India, não sei se a fonte é confiável mas achei legal. Poupa um monte de preocupações e acaba com muitas duvidas. Vou guardar na coleção.




As quatro leis da Índia:

A primeira diz: “A pessoa que vem é a pessoa certa“.

Nin...guém entra em nossas vidas por acaso. Todas as pessoas ao nosso redor, interagindo com a gente, têm algo para nos fazer aprender e avançar em cada situação.



A segunda lei diz: “Aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido“.

Nada, absolutamente nada do que acontece em nossas vidas poderia ter sido de outra forma. Mesmo o menor detalhe. Não há nenhum “se eu tivesse feito tal coisa…” ou “aconteceu que um outro…”. Não. O que aconteceu foi tudo o que poderia ter acontecido, e foi para aprendermos a lição e seguirmos em frente. Todas e cada uma das situações que acontecem em nossas vidas são perfeitas.

A terceira diz: “Toda vez que você iniciar é o momento certo“.


Tudo começa na hora certa, nem antes nem depois. Quando estamos prontos para iniciar algo novo em nossas vidas, é que as coisas acontecem.


E a quarta e última afirma: “Quando algo termina, ele termina“.

Simplesmente assim. Se algo acabou em nossas vidas é para a nossa evolução. Por isso, é melhor sair, ir em frente e se enriquecer com a experiência. Não é por acaso que estamos lendo este texto agora. Se ele vem à nossa vida hoje, é porque estamos preparados para entender que nenhum floco de neve cai no lugar errado.

6.02.2011

Desenvolvimento da afeição

[...] começando com uma atitude


De amor para todas as criaturas vivas,

Considere os seres, sem excluir nenhum,

Sofrendo nos três renascimentos ruins,

Sofrendo nascimento, morte e tudo mais.



A “atitude de amor” a que o texto se refere é a afeição que encara todos os seres vivos como amáveis. Quanto mais forte nossa afeição, mais facilmente surgirá a compaixão, e mais intensa e firme ela será. A compaixão pode surgir sem essa afeição, mas não será consistente. A menos que vejamos todos os seres vivos como próximos, queridos, atraentes e amáveis, não nos importaremos com o que acontecer a eles. Em vez disso, podemos até desejar mais sofrimento para quem não gostamos.



Essa afeição é a que uma mãe carinhosa sente por quem ela mais ama, a que uma pessoa sente por seu adorado animal de estimação, um sentimento caloroso que faz você querer abraçar, acariciar e dizer “que adorável!”.



No momento, nossos sentimentos de afeição são restritos àqueles de quem gostamos mas, mesmo assim, essa afeição desaparece rapidamente se as pessoas fazem algo contra nossos desejos. É uma tarefa árdua sentir afeição por todos os seres vivos. Isso não acontece naturalmente; é por isso que precisamos nos treinar para vê-los de uma nova maneira.



Geshe Sonam Rinchen

“Atisha’s Lamp For The Path to Enlightenment”

(Dharma Quote of The Week – Snow Lion, 24/11/10)

Fonte: http://samsara.blog.br/2011/06/desenvolvimento-da-afeicao/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+samsarablog+%28Samsara%29&utm_content=Yahoo%21+Mail

5.17.2011

WESAK

.LUA DE WESAK



Léo Artése



Foi numa manhã de lua cheia do quarto mês lunar, que corresponde quase sempre ao mês de maio, que nasceu como um príncipe, Siddhartha Gautama.







Conta-se que numa Lua Cheia de maio, nasceu Siddharta, filho do Rei Suddhodana e da Rainha Maia. O rei sentiu que todos os seus desejos estavam realizados com o nascimento do filho Siddarta Gautama, que significa “Aquele que realiza os desejos” ou “Desejo realizado”



A mãe de Siddhartha faleceu uma semana após o seu nascimento e passou a ser criado por sua tia sua tia Mahaprajapaty. Seu pai não desejava que Siddharta visse o lado negativo da vida, lhe propiciou treinamentos especiais em literatura e artes marciais. Ele dava tudo a ele para que não se interessasse em conhecer a realidade da vida.







Quanto tinha 16 anos concordou em se casar escolheu Yasodhara para ser sua esposa e tiveram um filho, Rahula. Durante anos o príncipe viveu protegido dos sofrimentos da vida, dentro do palácio. Cresceu como um nobre, entre prazeres, mas sempre seus pensamentos voltavam-se para o problema do sofrimento, tentando compreender o verdadeiro significado da vida.







Ao completar 29 anos, pediu a um dos guardas que o levasse para conhecer a Cidade. Eles escondidos saíram. A primeira coisa que viu Sidarta, foi um triste e velho mendigo pedindo esmolas e conheceu a realidade da velhice.







No quarto encontro impressionou-se ao encontrar um monge errante que mendigava alimento, e notou um expressão serena, tranqüila e feliz em seu rosto, e viu o desapego.







A segunda foi um doente ardendo em febre e conheceu a realidade da doença.







A terceira foi um viu um homem morto numa pira funerária e compreendeu a realidade da morte.







Ele viu a velhice, a doença e a morte.







Ao voltar para o palácio ele vê um velho monge, com a cabeça raspada, vestido com um velho manto, alimentando-se do que as pessoas davam a ele. Sómente ele parecia ter encontrado o significado, o sentido da vida. Impressionou-se ao ver o monge errante com uma expressão serena e feliz , conheceu desapego.







Na noite seguinte Sidarta abandona o palácio em silencio, deixando sua esposa e filho. Raspou sua cabeça, cobriu-se com um manto e partiu para a floresta em busca da resposta para os sofrimentos do mundo. Fez longas viagens, aprendendo com mestres e homens santos.







Recolheu-se floresta, fazendo rigorosa disciplina ascética por 6 anos. Nesse período, alimentava-se comendo apenas um grão de arroz ou uma semente de gergelim há textos que digam que foi uma semente de cânhamo.







Praticava a redução da respiração, e foi ficando com um corpo raquítico, parecendo morto.Até que um dia atravessando exauto, com dificuldade um rio, deitou-se enfraquecido na margem, conta uma história que passou um barco por ele, onde um professor de citara ensinava a seu aluno:







Se esticar demais a corda ela arrebenta...se deixá-la frouxa ela não faz musica.







Essas palavras soaram como uma grande verdade na alma de Sidarta, Uma mulher da Vila que passava por ele, Sujata, lhe ofereceu uma tijela com alimento e ele aceitou. Os seus discípulos ao verem se alimentando, sentiram-se traídos e o abandonaram.







Ele levantou e sentou- se sob uma árvore (figueira) e meditou profundamente. Nas suas visões enfrentou demônios, a ilusão, os desejos.







Meditando na árvore do conhecimento, a Árvore Bodhi, Para testa-lo, o deus Mara (Rei dos demônios) enviou três de suas filhas, O demônio representa o mundo terreno (ego) das aparências, e tentava passar-lhe dúvidas, mas ele argumentava com Mara que sua vida tinha ganho novo sentido e que ele não se apegava aos desejos. E Mara disse a ele para entrar logo no Nirvana, o que lhe trouxe certa dúvida, mas percebeu que o seu bem estar não estava acima de compartilhar uma consciência mais elevada com as pessoas.







Enquanto meditava. Mara, sabia que seu poder para desvirtuar a humanidade estava ameaçado. Durante a noite, muitas distrações surgiram, sêde, luxuria, descontentamento e distrações de prazer. E ao longo de Sua concentração meditativa, Ele foi tomado por visões de incontáveis exércitos atacando-O com as mais terríveis armas. Mara enviara um exército de demonios para destruí-lo. Mas por causa de Sua meditação indestrutiva Ele pode converter negatividade em harmonia e pureza, as flechas lançadas se transformaram em flôres.







Então Mara envia três tentações, suas três filhas : o Desejo, Prazer e Cobiça, que se apresentaram como lindas mulheres, ardorosas para dar e receber prazer, apareceram, como belíssimas mulheres, para distraí-lo ou seduzí-lo. Outros assumiram formas de animais ferozes. Mas seus rosnados, ameaças e qualquer outra tentativa foram em vão para tira-lo de sua meditação, ele permaneceu imóvel, sentado em um estado de total meditação, alcança todos os graus de realização, adquirindo o conhecimento de todo o Seu ciclo de mortes e renascimentos. A terra tremeu e uma chuva caiu de um céu totalmente sem nuvens em resposta à Sua suprema conquista.







Com o amanhecer Ele se levantou como Buda ou "O Iluminado", numa noite de Lua Cheia de maio, com a idade de 35 anos. Seus desejos e sofrimentos haviam terminado e como Buda, o Iluminado, Aquele que Despertou experienciou o Nirvana.Teve a compreensão que todos os sofrimentos provém de ilusões e por as pessoas não compreenderem que dentro de si está a iluminação, o Buda.







Ele compreendeu que o sentido da vida não era encontrado nem numa ilusão do palácio e nem numa vida miserável. Que existia um caminho do meio, compreendeu que a vida se estende por todo o universo, do passado até o futuro. Compreendeu a essência da vida do universo, e que sua vida fazia parte dela. Ele teve consciência total do destino (lei da casualidade) de toda a humanidade e fundou o budismo na história espiritual da humanidade.







Com a iluminação, ele encontrou a forma de superar os sofrimentos humanos - o nascimento, a velhice, a doença e a morte.Pregou por 45 anos o Caminho do Meio, o Caminho do Dharma, através das 4 nobres verdade:







No Pico da Águia,(distante da cidade), pregou diversos ensinos e os compilou no que seria o Sutra de Lótus, seu mais elevado pensamento, ensinado durante seus últimos oito anos da vida.







1- A nobre verdade do sofrimento.



2- A nobre verdade da causa do sofrimento.



3- A nobre verdade da extinção da causa do sofrimento.



4- A nobre verdade da senda que leva à extinção do sofrimento.



OS 8 GRANDES ENSINAMENTOS DE BUDA







A Crença Correta: é a crença de que a Verdade é o guia do Homem;



A Resolução Correta: ser sempre calmo e nunca fazer dano a nenhuma criatura viva;



A Palavra Correta: nunca mentir, nunca difamar ninguém e nunca usar linguagem grosseira ou áspera;



O Comportamento Correto: nunca roubar, nunca matar, e nunca fazer nada de que uma pessoa possa mais tarde arrepender-se ou envergonhar-se;



Ocupação Correta: nunca escolher uma ocupação que seja má, tal como falsificação, manejo de coisas roubadas e coisas semelhantes;



O Esforço Correto: procurar sempre o que é bom e afastar-se do que é mau;



A Contemplação Correta: ser sempre calmo e não permitir-se pensamentos que sejam dominados pela alegria ou pela tristeza;



Concentração Correta: consegue-se quando todas as outras regras forem seguidas e uma pessoa tenha atingido o nível da paz perfeita".



Conta-se que faleceu aos 80 anos, ingerindo um alimento estragado. Ele sabia que iria morrer e chamou seus discípulos, e disse: Agora basta, é o momento de partir.







"Depois virou-se para os seus discípulos e quis saber se alguém tinha alguma dúvida. Ninguém disse nada. Três vezes fez a pergunta, mas todos permaneceram em silêncio. Disse então suas últimas palavras:







"Tudo que foi criado está sujeito à decadência e à morte. Tudo é transitório. (A única coisa verdadeira é: Trabalhem a própria salvação com disciplina e paciência."







Buda morreu sorrindo. Seus ensinamentos, espalharam-se no mundo todo

5.13.2011

ensinamento de Alan Wallace

“Todos nós queremos encontrar felicidade. Queremos ter menos frustrações, insatisfações, problemas no coração e na mente. Todos nós queremos isso. Cada um de nós deseja paz, menos ansiedade, uma felicidade maior. Todos nós queremos isso.




De forma geral, muitos de nós, na maior parte do tempo, estamos sempre olhando para fora, pensando: “Alguém vai me fazer feliz”, “Algum trabalho vai me fazer feliz”, “Algum lugar vai me fazer feliz,” “Alguma posse vai me fazer feliz”. Mas na medida que crescemos e amadurecemos, vemos que nada daquilo é verdade. Ninguém lá fora pode nos fazer felizes de verdade. Nenhuma aquisição, nenhum emprego…



É óbvio. E quanto mais cuidadosamente nós olhamos, mais óbvio se torna. Se realmente queremos ser felizes, encontrar contentamento, liberação da ansiedade e assim por diante… realmente só há uma maneira. Você não tem que ser religioso, não tem que ser espiritual. Você tem que ser realista!



E isso é reconhecer que a única forma de você realmente encontrar satisfação, um maior sentido na vida, maior felicidade na vida, realização, é cultivando seu próprio coração e mente. Isso é apenas realista. Você não tem que acreditar em nada. É apenas bom senso.



Agora, nós podemos perguntar, antes de tudo: será que há maneiras com as quais estamos nos comportando (com nosso corpo, com nossa fala, mesmo com nossa mente) que estão prejudicando aos outros desnecessariamente?



Às vezes crianças tem que ser disciplinadas, talvez. Elas não gostam, mas estamos fazendo isso apenas pelo seu bem. Então, às vezes é assim. Mas, estamos nós prejudicando alguém, de alguma forma que não está sendo útil, mas apenas prejudicando?



Quando nós reconhecemos isso, vemos que causa dano para outras pessoas, mas também causa sofrimento a nós mesmos. Sempre. Então a primeira coisa é: realmente viver uma vida suave, sem causar danos. É o mais importante. Assim você não prejudica a si mesmo e não prejudica aos outros. Pelo menos isso!



E então se você quer realmente começar a cultivar as causas verdadeiras da felicidade, uma maior liberdade do sofrimento, da ansiedade, do medo, da aflição, então, é pra isso que serve a meditação.



Meditação, em sânscrito, é “bhavana”. E “bhavana” significa cultivar, como um agricultor cultiva o campo. Ele não sai, simplesmente, e pega alguma comida aqui e lá, mas ele realmente se dedica ao solo, ele o lavra, o fertiliza, irriga, planta a semente, ele cuida, tira as ervas daninhas e então faz a colheita.



Então, em vez de sair por aí tentando achar alguma felicidade externa, nós a cultivamos com nossos próprios corações e mentes. E meditação é uma forma de fazer isso. Há muitas maneiras para meditar. Para muitas pessoas que estão começando, um tipo de meditação chamado shamata é muito útil.



O essencial dela, antes de tudo, é aprender como relaxar, aprender como relaxar o corpo muito profundamente. Sem tensão, sem estresse, sem contração. Saber como relaxar a respiração, respirar sem esforço. E aprender como deixar a mente relaxada. Então, primeiro de tudo, aprender como relaxar.



E então, gradualmente, por meio da meditação, cultivar uma calma interna, uma serenidade interna, quietude interna, uma presença. De forma que não estamos sempre distraídos, inquietos, agitados, excitados, mas realmente temos alguma paz mental. Isso pode ser cultivado por meio da meditação. E então, gradualmente, com base em relaxamento e estabilidade, podemos desenvolver clareza e vivacidade.



Portanto, com essas três qualidades, através da meditação, da atenção plena sobre a respiração e outros métodos, nós podemos ter maior presença, maior paz mental. E também quando estamos nos relacionando com outras pessoas. Porque as nossas mentes, internamente, estão quietas. Então nós podemos realmente focar nos outros com muito mais proximidade. E não ficar sempre sendo pegos pelos nossos próprios pensamentos, esperanças, medos, mas realmente focar nas necessidades dos outros.



Dessa forma, naturalmente, quando começamos a expandir nossas mentes e corações para focar outras pessoas, outros seres sencientes, nós também encontramos felicidade, uma felicidade maior.



Porque nossas mentes e corações se ampliam há maior paz e maior felicidade.”



–Alan Wallace

4.19.2011

Apreciação

Compreendendo que não precisa de nenhuma coisa nova, extraordinária, para te entreter, você pode estar exatamente aí e celebrar o que tem.

Você não precisa de novos objetos para apreciação. Testemunhar e vivenciar o que já tem basta. Na verdade, isso é maravilhoso. Já é um bom tanto, então você não precisa de nada extra.


Quando não está buscando uma alternativa melhor, ou substituir o que tem, você se sente bem satisfeito. Satisfação é apreciar a nós mesmos e o que já temos, falando naturalmente. Isso é respeitar a sacralidade e a beleza do mundo.



Chogyam Trungpa (Tibete, 1939 – Canadá, 1987)

3.10.2011

bushido

Bushido
(extrai do blog do Deva, visitem http://devastando.blogspot.com/


Não desejo um lar, o momento presente é o lar;

Não desejo poder, o ritmo da natureza é o poder;

Não desejo liberdade, consciência é liberdade;

Não desejo habilidade, prática incessante é a habilidade;

Não desejo autoridade, honestidade é a autoridade;

Não necessito armas, ausência do ego é a maior arma;

Não sigo regras, prontidão e adaptabilidade são as regras;

Não tenho inimigos, apatia e descuido são inimigos;

Não necessito amigos, o universo é amigo;

Não sigo planos, paciência é o plano;

Não tenho estratégia, atenção desfocada é a estratégia;

Não tenho segredos mágicos, ação apropriada é o mágico segredo;

Não necessito ouvir, quietude é a audição;

Não tenho corpo, resistência incansável é o corpo;

Não tenho olhos, a intuição é meu olho;

Não necessito armadura, coragem e prontidão são a armadura;

Não necessito fortaleza, a não-mente é fortaleza;

Não necessito escudos, respeito à vida é o escudo;

Não necessito espada, percepção aguda é a espada;

Não almejo honra, compaixão e gentileza são a honra;

Não almejo vitórias, harmonia e equilíbrio são as vitórias;

Não desejo recompensas, lágrimas e sorrisos são as recompensas;

Não almejo vida ou morte, o ritmo da respiração são a vida e a morte;

2.12.2011

ouvindo a chuva
gotas descendo do céu
escorrendo pelas paredes
procurando frestas no solo
passando por raízes e pedregulhos
subindo por caules e folhas
voltando ao ar
suspensas como goticulas
matéria de nuvens.

2.10.2011

Being tidy and meticulous is the Buddhist message—meticulous in cleaning your oryoki bowls, meticulous in how you walk, meticulous in how you treat your clothing and your household articles. We can’t get away with being sloppy; we have to introduce the principle of tidiness more and more into our lives. When economic chaos or family chaos takes place, apart from obvious issues of economic mismanagement, marital problems, or emotional problems, we find that domestic details have not been taken care of. There are cockroaches running all over; there is never enough toilet tissue; the toilet bowls are overflowing; and the dishes are not washed. All those problems come from a careless attitude. It is predictable. But when we clean up after ourselves, according to exactly the same principles we follow in oryoki, we have nothing to blame. When we begin to live our lives in that way, cleaning up after ourselves, what is left is further vision and further openness, which leads to cleaning up the rest of the world.


Chogyam Trungpa Rinpoche

1.21.2011

Faça Facil

Retirei de Dharma Arte http://pontos.dharma.art.br/faca-facil e guardei aqui.

The discipline of D.E. [A disciplina de F.F. (“do easy”, “faça fácil”)] é um curta-metragem de Gus Van Sant, adaptação de “The art of D.E.”, de William Burroughs.




James Grauerholz, executor do legado de William Burroughs, escreveu:



No final da década de 1960, Burroughs ficou impressionado com a prática de vipassana. Partindo de suas impressões, ele desenvolveu sua própria metodologia de consciência panorâmica [mindfulness], adaptada a sua vida solitária em Londres naqueles anos: a “disciplina de F.F.”, ou “faça fácil”. Era um elaborado sistema para cuidar dos afazeres domésticos com o mínimo esforço físico.

F.F. é uma maneira de fazer. F.F. simplesmente significa fazer o que quer que você faça da maneira mais fácil e relaxada possível, o que é também a maneira mais rápida e eficiente, como você descobrirá ao avançar em F.F.




Você pode começar exatamente agora, arrumando seu apartamento, colocando móveis ou livros no lugar, lavando a louça, fazendo chá, separando papeis. Não tateie, estúpido, agarre um objeto. Calmamente espalhe os dedos possessivos até ele, como se um velho policial gentil o abordasse. Dirija a pá suavemente até o chão como se estivesse pousando um avião.



Eis um estudante trabalhando. O estudante considera objetos pesados. Um gravador sobre a escrivaninha, ocupando muito espaço, e que ele não usa muito frequentemente. Assim, coloque-o debaixo do lavatório.



Você descobrirá coisas que tem feito desajeitadamente há anos, até pensar que é como as coisas são.



Agora tente novamente levantar mudar de lugar girar ajoelhar-se, apenas isso, e direto para baixo do lavatório.



Ele está aprendendo os milagres simples... O Milagre do Espelho do Lavatório...



[…]



O iniciante pode pensar que F.F. é um jogo. Você está em uma corrida de obstáculos com os obstáculos posicionados por seu adversário. Tão logo tente colocar F.F. em prática você descobrirá que tem um adversário muito inteligente e engenhoso com um conhecimento detalhado de suas fraquezas e acima de tudo um especialista em desviar sua atenção pelo tempo necessário para que você derrube um prato no chão da cozinha. Quem ou o que é esse oponente que faz com que derrame espalhe tateie e caia? Groddeck e Freud o chamam de ID, um mecanismo interno autodestrutivo. O sr. Hubbard o chama de Mente Reativa. Você desconectará o ID à medida que avançar na disciplina de F.F. F.F. o colocará em conflito direto com o ID no momento presente em que você pode controlar seus movimentos. Você pode derrotar o ID no momento presente.

A “metodologia de consciência panorâmica” de Burroughs e a interpretação que Gus Van Sant oferece dela podem apresentar interessantes questões para pensar as tradições de consciência panorâmica e como uma pessoa as pratica. Patrick Zimmerman escreveu em seu blog, comentando o filme de Gus Van Sant:




O conselho dado por Van Sant centra-se em temas como colecionar, medir, contar, limpar, repetição e magicamente desfazer. Ele descreve Fazer Fácil como uma MANEIRA de fazer, mas esse fazer é na verdade estar constantemente alerta às coisas, uma interminável observação vigilante de objetos perigosos, mesmo dentro do pequeno mundo de seu próprio apartamento. Fazer Fácil não resulta em uma vida fácil ou relaxada, e sim em uma patologia obsessiva-compulsiva, manifestada com mais clareza na forma socialmente mortal da isolação do afeto.



Pensar e observar são separados e tomam o lugar de relações emotivas reais com os outros. E é isso que caracteriza seus grandes filmes sobre os que estão à margem da sociedade. Neste curta em particular, Fazer Fácil não conduz a um sentido relaxado de ligação ou proximidade com os outros; em vez disso, no final provoca uma temerosa destruição deles.



Descrever o estar constantemente alerta como uma patologia é no mínimo provocador.

1.05.2011

inspiração para a prática

a generosidade trascendente é encontrada no contentamento, sua essência é siplesmente se desapegar



a disciplina é não desagradar as três jóias


a melhor paciência é a atenção infalível e o estado desperto primordial


a diligência é necessária para sustentar todas as outras perfeições


a concentração é perceber como sendo deidades todas as aparências às quais nos fixamos


a sabedoria é a liberação espontânea do apego e da fixação; nesse estado não há nem pensador nem pensamentos


não é algo comum. é livre de todas as convicções estabelecidas


está além do sofrimento, é a paz suprema


não conte isso para todo mundo


mantenha-o como algo sagrado em sua mente.
 
Rigdzin Jigme Lingpa